quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Último Pensamento do ano – Poeta Reflexivo


Mais vale ser rico, ter saúde e fazer boa poesia, do que pobre, doente e dar erros ortográficos.

Saio de 2009 com um sorriso maior que o mundo. As vossas palavras foram minha companhia diária na alegria e na tristeza. Por nunca me terem abandonado, estou-lhes grato pelo conforto que me proporcionaram. Faço votos de que continuem presentes no próximo ano, trajadas ainda mais de carinho e amizade.
Por mim, aqui estarei novamente grato e feliz por poder contar com a vossa presença mais uma vez.

Feliz Ano 2010

Beijos e Abraços

José Luís Lopes

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Chá Para Dois? (P/Anamar)


(imagem google - geometria sagrada)
*
Sei que te desnudas para seguires outros destinos
Sei do quanto amas intensamente a vida
Mas tu sabes que jamais ouvirás os sons da alma
Se não amares para lá da vida
E sabes o quanto me refaço para entender os teus sinais

(Mas…
Para quê inverter o destino
Submeter-nos às doces maravilhas do mundo
Se o ele sofre no nosso colo
Inanimado
Calado
Ensanguentado
Sucumbindo nas catacumbas de um novo alvorecer ?)

Sei-te mais que uma só Mulher
Viajando nos sonhos teus
Para me encontrares nos sonhos meus
Mas olha as várias luas que te abraçam
E o deserto que te suga os poros húmidos
E te realçam a aura límpida
Aglutinada pelos mares de outrora

Há um silêncio esmiuçando a vida
Que dedilhas sempre que olhas o teu céu
Há um deserto afundado
Nos rios que correm para o mar
E esses já te conhecem
Através de um novo olhar

Bebe deste cálice
O suco que te adoça os lábios
Iguarias trazidas das profundezas dos oceanos
Só para ti

Chá para dois?
*
Agradeço à Anamar a inspiraçao para este poema, aqui:
http://um-cha-no-deserto.blogspot.com/2009/12/o-beijo-prometido.html

domingo, 27 de dezembro de 2009

... rios mansos ...


*
Os prazeres que tenho
chegam de longe
vêm de longe
de muito longe daqui!
*
São prosas
são versos
são rios mansos
que desfilam por mim
como gansos
no firmamento
do meu ser.

*

Vínculos


[foto do site olhares.com do autor Bruno Figueira]


São elos que nos unem
Para além das palavras
Dos versos narrados,
No horizonte onde o fogo
Se une com o calor do olhar…

São albergues
Inovados em encontros
De luz
Na configuração esbelta
De Ser e ter
Laços aglutinados
Pela nobreza da transparência
E sentir plena a comunhão…

São vínculos
Antes impossíveis
Hoje eternos…



É tudo aquilo que nunca pedi
Mas a universalidade tal como edifica…

Inspirado aqui:

Parabéns Dolores por mais um ano da tua bela existência...

Ana Coelho

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Logo hoje que queria tanto falar!



















O silêncio apareceu!
Logo hoje que queria tanto falar!
Não posso esquecer que é Natal.
As ruas vestem-se de vermelho
E as pessoas de alegria,
Mas este silêncio disse-me para não fazer barulho:
- Pssss…! Cala-te.

Este Silêncio
Diz que não quer ser interrompido
Nos seus silêncios.
Disse-me também que, quando fala,
Não gosta de ouvir ruídos.
Estou atónito,
Logo hoje que queria tanto falar!
Então, estou em silêncio total,
Só falo por dentro.

A minha alegria, que não gosta de silêncios,
Deixou-me.
Disse-me que não estava para me aturar
E saiu.
Foi às compras, penso eu!
E com razão.
No Natal, este silêncio?
Quando todo o mundo, apesar de nada dizer,
Anda a fazer ruído.
Estou a perder a cabeça.
Logo hoje que queria tanto falar!
Este é um momento de…
Não silêncio.
Afinal, é Natal!
Até a racionalidade, por esta altura, está
Fora de si.
E eu por aqui abandonado,
Com esta dor feita do silêncio.
Ainda ontem estava feliz.
Estou agora sozinho, triste e em silêncio,
Tudo por causa de um silêncio estúpido
Que teima em aparecer por estas alturas.
Logo hoje que queria tanto falar!
Fico sem saber se este silêncio
Aparece apenas para me aborrecer,
Ou simplesmente para me dizer
Que ainda há muita gente,
Sem o perfume do Natal…

José Luís Lopes

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Surpresa

*

Sorvo na manga uma carta para ti
e na camisa o paladar do teu abraço
devoro no peito uma rosa cravada
na mão esquerda um sorriso
e na direita uma enxada fatigada
causo na mente o motivo por ver-te
e na ponta da minha vontade
laços de amor como ornatos
sepulto no olhar lágrimas do teu saber
e na boca o beijo por mimar-te

*


escrito a 11 Dez. 2009

domingo, 20 de dezembro de 2009

A lágrima morreu

Num caixão sem soalho,
a lágrima ia nua e singela
ia só nos despojos da vida,
ia sem voz nem beleza,
talvez morta pela míngua
talvez farta pela destreza,
mas no fim, a lágrima morreu…
foi uma septicemia fatal
uma dor ansiando ser tristeza,
ou uma tristeza ansiando esquecer,
mas a lágrima morreu,
morreu boçal e livre
num incesto de emoções,
morreu breve e solteira
como deve uma boa lágrima,
morreu apenas
sem sequelas para o coração,
morreu só, morreu chorando
a vida recauchutada
que lhe deu uma peritonite amiga!
A lágrima morreu,
Ficou o sal…

É assim o Natal



[foto do site olhares.com do autor Aires Osório)




É Natal

As ruas iluminadas
Em espelhos de luz
O amor que se reproduz
Em mil estrelas de alegria
No calor dos sorrisos
Vidas repletas de cor
É a magia do nascimento

É Natal
São pedaços de Deus
Pintados nos laços
Do aparecimento sublime
Jesus a voz viva do salvador
Em glórias do divino céu
Partilhas anunciadas
Na conciliação que reina

É Natal
Tempo de fraternidade
Em sopros de união
No trono da paz em cada coração
Erguem-se os símbolos
De vigor e esplendor
No mais íntimo sentido
Do verdadeiro amor divino

É assim o Natal…
Renasce o autêntico sentido da vida…

Ana Coelho


Feliz natal para todos e que o Natal chegue a cada coração

Em suspenso


Adormece, vida. Adormece.
E eu entrego-me a minha cama.
Em suspenso põe o nosso drama.
Enquanto esqueço, tu me esqueces.
Adormece, pois quem me ama
Já está guardado numa prece
E as dúvidas, que bem conheces,
Estão no bolso do pijama.
Adormece e por fim descansa
Das tarrafas que o convívio tece
E depois em nossas águas lança.
Vá. Repousa, pois a mim parece
Que por hoje basta essa aliança.
Boa noite, vida. Adormece.

Frederico Salvo

sábado, 19 de dezembro de 2009

Lusco Fusco


Saiu atrasada. Como sempre. Quase descomposta, o vestido amarrotado (a tentar telefonar-lhe enquanto aguardava o elevador e deixava os dossiers no secretariado) nos seus saltos altos em equilíbrio precário.

Esperava-a não muito perto, onde, no meio da multidão que sai dos empregos na pressa de chegar a casa, seriam mais um casal. A passar despercebidos. Em pecado. Desfrutado. Revivido. Intenso.

Mas sempre como se fosse a primeira vez.

Ele está no "café deles", jornal e bica na mesa.
Observa-o sempre através do vidro, antes de que ele a veja. Ou pensa que assim é...

E entra encantada, numa paixão adolescente, a diferença de idades não se sente. Somente na sensatez dele e na impulsividade dela. Quase feroz, arrebatadora.

Ergue o olhar, surpreso por ela já estar junto de si, tão absorvido que estava pela leitura . Porque por vezes, levanta-se e vem buscá-la à porta.
E ela sente-se a mulher mais amada do mundo, por a proteger assim.

Ele sorri e o mundo dela centra-se nele, naquele sorriso infinito que morrerá com ela.

Olham-se e o Mundo pára, avança, rodopia, muda. E no entanto, está tudo no seu lugar. Ele à frente dela à espera que lhe conte o dia, o que a deixa sem palavras porque estiveram sempre em contacto. Ela à espera que ele diga como foi o dele, que apesar do contacto e da faladora ser ela, tem sempre algo a acrescentar.

Entretanto o silêncio toma conta do momento, porque a olha, ela cora, adivinhando-lhe os pensamentos. Desejos escaldantes...

E ficam assim, sem falar, mão na mão sob a folha de jornal, numa contemplação mutua, embevecida e terna.

Mergulham os olhares e ela desperta com o gesto dele em dizer-lhe que são horas de ir, porque o semblante dele muda e ela percebe.
Ela tem o comboio para apanhar e ele o ensaio.

Caminham lado a lado, abraçados, passo acertado. Os coração batem, em uníssono no sentido dos ponteiros do relógio da Estação de Comboios.

Encosta-a suavemente contra o muro, afasta-lhe o cabelo dos olhos, sorri e beija-a num tocar de lábios indescritível, depressa uma boca na outra, as suas mãos nela... Estão em publico. Mas é lusco fusco.

Desprendem-se a custo, ele pergunta se ela quer levar o jornal.
Não.
Até casa, prefere ir pensando-o, sonhando com amanhã, em que a rotina não cansa. Só quer que ele não chegue atrasado ao ensaio...

Enquanto sobe as escadas, chega uma mensagem dele:"Adoro-te".

Ela também. E é assim , para sempre.

(Desde o tempo em que um guarda-chuva servia para abrigar os dois).

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

REFLEXÃO



REFLEXÃO


Subitamente

O rumo se fez tempo e ao longe

O amanhecer se recortara.


A quem cabe o fortuito,

O desgarrado,

O repensar o acaso, o absoluto,

O misterioso esgar e

A impoluta coragem,

A razão dia a dia perscrutada,

E a fuga ciclicamente repetida?


Arqueados, no cais, retomamos

O alento da manhã. Caminhamos.



Foto e poema: apm

Incertezas!

*
Imobilizada pela vida
Conto pelos dedos as minhas angústias
Sentada á janela dos sonhos
Numa falência moral que tenho!
*
Limito-me ao ser apaixonado que sou
sem nada receber na troca
Meu amor é só meu
E o papel desbota!
*
Meus sentimentos para onde vão?
Tens-me não pela boca mas pelo coração!
*

escrito a 06 Out. 2009

Um Sonho a Desaguar no teu Olhar(P/Saozinha)

(Imagem que faz parte da exposiçao de Jomasipe)
*
Neste templo interior onde o Natal tem o papel principal, lembro-te das cores que me vestem a alma e que te ofereço, sempre que passares na minha rua. Sabes que existe um pinheiro a tocar o céu embelezado com os sons que me chegam do outro lado? Sons diversos trazidos pelos ventos do norte que me carregaram ao colo enquanto criança e que me lembram um modo singular de Ser através dos movimentos circundantes à volta do mundo. Sãos estes círculos intensamente ajustados às novas formas de vida que se assemelham às tendências modernistas e "esquizofrénicas" que se prestam a novas tonalidades e caminham sempre para lá do imaginável mundo a seguir. Inspirando e expirando, até que venham à tona todos os males do nosso mundo e das outras gentes que os carregam uma vida inteira, até que se desfaçam os nós por nós ajustados à vida, formar-se-á um trio onde as arestas se toquem num tri-ângulo assertivo edificando as extremidades que se tocam num céu só nosso.


Caminho por todos os cantos que conheço em busca de um afago que me limpe a poeira que carrego. São grãos que me disponho a contar, sem contar com os dias e as noites que sonhei ser mais que um simples grão de areia no meio do deserto. Esta poeira que ocupa todos os recantos do espaço, criando caminhos diversos, em volta do Sol, originando novos mundos onde as estrelas terminem a sua viagem e se estatelem nos meus olhos. Levar-te-ei sempre a mais preferida, aquela que se reergueu a par do Sol Central e te conduziu pelas pradarias gigantescas que te circundam e te beliscam nas noites esbeltas, acariciadas pela transparência de um sonho que está prestes a desaguar no teu olhar. Se ouvires os sons internos da tua alma, serás sempre uma imagem transfigurada aos olhos de um único Deus que te conhece e que sempre esteve em ti. Conhecê-lo é vivenciar experiências que te levam por altares magnificentes condecorados com a tua imagem na matriz original.

(Agradeço a inspiração à Saozinha, aqui:
http://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=111284com

(alguns momentos do texto inspirados em geometria sagrada)

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Intensamente



Detesta camisas. Mas estas que usa sobre os tops, semi-transparentes dão-lhe uma elegância invulgar, a elegância interior que transparece quando fixa o firmamento, mesmo em dias de Sol escaldante.

O banco de jardim está só para ela, como o Verão está para um dia de praia. Senta-se à sombra do salgueiro, onde tantas vezes sonhou, confidenciou, namorou...

Passam vinte e cinco anos e reconhece os aromas, as cores, as sombras mais intensas pela densidade das folhas.

Descalça um pé, depois o outro, sente-se menina endiabrada, abraça as pernas recolhidas para cima do banco e pousa a cara nos joelhos. Atitude infantil, quase provocadora numa idade para ter juízo. Os colegas metem-se com ela. Acham-na demasiado calada, a ela que alcunhavam de tagarela. Por outro lado, sempre teve destes momentos: pensativa ou inspirada, costumavam perguntar.

Nota-se o silêncio quebrado pelo chilreio dos pássaros. Esvoaçam borboletas. 40 graus. Centígrados.

Solta-se um perfume quente do corpo quieto.

Embala-se nas memórias e sonha com os desejos que pretende realizar. Deixou o caderno em casa. Está ali para estudar a sério. Nada de melancolias. Nem de libertação em palavras.

Transpira ternura, apesar duma aragem que se levantou. Fresca e repentina. A ternura.

A aragem passa, breve e com o sorriso que a caracteriza, resolve viver.
Intensamente.
Com as mãos dentro do peito, num arremesso de vida.

(Mesmo que por vezes a dor se instale e a deixe extenuada).

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Neste Natal/Feliz Natal a todos

Neste Natal
visto-me das cores
que enfeitam as ruas
e a tua casa.
o vermelho do amor,
o verde da esperança
o branco da amizade.

Neste Natal
quero ser as palavras
que te afagam as noites
as mãos que procuras
perdida na solidão.
A saudade com que vestes
as minhas ausências

Neste Natal
quero ser presença
amizade e ternura
um sorriso rasgado
atravessando os céus
desta lonjura.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Despida de amarras, vento.

*
Depois do amor que te agrado
Agarro-te o vento alado que me foge
Meu caminho urge liberdade
Liberto meu ser num corpo amado hoje
Esbarro quem me empurra o arado
Da vida as brumas do paraíso
Fantasia e sonetos do Camões vivo
Meu fado meu lado livre acorrentado
Sonho liberto amarras do teu abraço
Bebo o vento que estimo e amo
Meu amor livre de ir onde quero
Anda comigo meu destino amigo
Me entrego ao sol que partilho
Em raios de cheiro fiel paixão e saudade
Toco o sentido do meu-teu postigo
Me gustas te agrado em palavras gradas
*



domingo, 13 de dezembro de 2009

Eu quero que seja Natal



Hoje fui às compras!
E, Amigos,
Senti o Natal.
Eram rostos,
Apenas rostos
Mas eu via o Natal.
E no meio desta imensidão
De sonhos dispersos
Eu via o Natal.
Eu quero que seja Natal!
Preciso que seja!
E para não ter dúvidas
Cravo os olhos,
-Lá está o Pai Natal.
Não sei se é o meu
Mas que tem o mesmo aspecto,
Isso tem, vi-lhe a bondade!
E acreditem, até o Menino Jesus
Tinha uma cabana.
Dentro desta Cabana, gigante,
Sei que estou feliz!
São as luzes,
Os embrulhos,
O vermelho,
As fitas,
As crianças a rir,
As mães a sorrir,
E os pais a carregar.
É a Fé de que vou ter mais uma
Ceia de Natal.
Vou ter a minha família
Junto ao sapatinho.
Estou Feliz!
Vejo alegria
Em cada esquina
Não sei se dos outros
Ou apenas minha,
Não me interessa,
Eu sei que é Natal!
E do consumismo,
Desculpem-me,
Mas não quero saber!
Cada um que faça o seu Natal,
E dentro desta esperança
Eu continuo às compras,
Sonhando com a alegria,
De quem vai receber a minha
Prenda de Natal.

José Luís Lopes

Requiem


Regressa a casa . A fadiga é insuportável. Redes sem elasticidade nas penas cansadas.
Senta-se ao piano e solta a voz. Num grito de desespero.


É o piano desafinado, numa melodia incontrolável.

Sabor a morango, do qual só aprecia o aroma. Cerejas no vermelho dos lábios a disfarçarem o amargo dos medicamentos.

As nêsperas são mais doces quando descascadas por mãos alheias.

Inverte-se o olhar numa caminhada singela.
Hábito de dor.

Levanta-se, abre a janela e debruça-se no parapeito numa espera de Verão. Mesmo sabendo que a Primavera não aconteceu.


O calor sufoca as nuvens dos olhares embaciados.

Mergulha no sonho e com o coração a palpitar atravessa indiferente a tarde desarrumada no peito.
Numa espera de quem não sabe aguardar.

sábado, 12 de dezembro de 2009

Um outro eu dormindo em minha cama...



peguei tudo

até aquele sorriso
que tu me deu dois anos atras
tua mão no meu corpo
os arrepios na nuca
aquele sorriso atrevido
bilhetinhos na gaveta
bobagens pela madrugada
pézinho no meio da noite
até aquele livro que tu me deu
juntei todas as palavras
coloquei num saco preto
junto com teu cheiro
tudo na mala
e tu ao lado dela
sumindo no retrovisor
talvez eu acorde na segunda
e encontre outro Eu
dormindo em minha cama


Vania Lopez

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Sucumbiu Um Alento (P/José António Antunes)


Se por um punhado de palavras
te conduzisse pelas terras governadas
pelos navegantes dos mares
elas, as terras seriam mais recatadas
quando da força dos ventos
e deixariam de ser trocadas
por uma qualquer maré negra
arremessada por um qualquer
pé de vento

Se por um acaso me esquecer de ti
à porta de um moinho ao relento
e através da força motriz
me entregar à brisa quente,
não fui que me fui
Sucumbiu um alento
*
Agradeço a inspiração num outro de José Antunes aqui:

http://www.worldartfriends.com/modules/publisher/article.php?storyid=16895&com_id=63082&com_rootid=63082&com_mode=thread&#comment63082

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Encorajamento




Procurei nos templos silenciosos
e escuros a luz que iluminariam meu olhar.
Os Deuses nem sempre me souberam
transmitir a coragem que procurava.
Agora, basta encostar meu corpo
ás colunas construídas pelas mãos doridas
de uma vida em constante reconstrução,
e saciar a minha sede
de sabedoria e conhecimento.

É nas colunas pedras erigidas ao céu
que recebo a força para enfrentar a viagem.
´
É na leveza feita generosidade
em coordenadas que transmitem
força e coragem
numa dádiva sem limites
que faço esta viagem contigo
ao mundo infinito
das palavras

Sesta


A tardinha descamba mole...
E meu corpo a balançar na rede amarela
Pelo esforço do meu pé direito
Sobre a cerâmica áspera.
Faz-se o vento que não havia.

Andorinhas cortam o ar
Com seus mergulhos desconcertantes
E vêm adentrar os vãos das telhas
Onde os filhotes iniciam grande rebuliço
E rompem ruidosa sinfonia.

Ontem não havia essa casa,
Nem essa varanda.
Não havia sequer uma sesta,
Nem essas mãos envelhecidas.
Vive o homem que não vivia.

Ontem não eram os amigos, distantes,
Nem tão ruins as notícias diárias.
Ventos eram comuns, sem balanço;
Redes...só nos ombros dos ambulantes.
Se eram amarelas...eu não sabia.


Frederico Salvo

domingo, 6 de dezembro de 2009

Private Emotions


Rebenta num pranto, depois da pesquisa dos resultados das análises, na internet.
Sempre o soube. Mesmo que a melhor amiga ( que é médica!) lhe diga que não é bem assim. Que se deixe de armar em médica.
Mas ela, sempre soube que iria ser assim.
Quantas vezes irritou a família e os amigos, com a frase: "Sei que vou morrer aos 50 anos".

Depois da explosão de lágrimas em soluços que deixaram sulcos no peito e nas mãos, é abraçada com força, pelo homem que a ama e lhe diz que não está sozinha.

Mas ela foge, isola-se. Não quer ninguém. E faz prometer segredo.
Um segredo que não sabe onde a levará.

Pensa que recentemente, a vida lhe deu uma oportunidade. A qual quer retribuir, dando o melhor de si.

Depois, baixa os braços, o corpo amolece, a alma moribunda num desistir doloroso.

Com quantas Primaveras se inventa uma vida nova?
Quantos olhares são necessários para que o sorriso permaneça?

Adormece exausta. Sem saber se quer acordar.

Amanhece com a pressa de compromissos a cumprir.
Apressa-se. São 7.30h. Vai para as aulas. Os colegas estranharam-lhe a ausência. E mimam-na.
O amigo com que viaja percebe que ela não está bem, apesar da conversa normal. Mas o sorriso perdeu algum brilho. E as olheiras...

Tenta não se isolar, como da ultima vez. Almoça em grupo. Conversa com uma amiga.
Diga o que disser, ninguém entende.
Assim, guarda o segredo.

Lamenta a explosão de lágrimas do dia anterior. Mas aliviou-a um pouco.
A voz da filha dá-lhe uma energia inexplicável. E aparentemente inesgotável.

Regressa a casa. Mantém os projectos. Não desistiu dos sonhos.
Senta-se em frente ao computador. Ouve música e liberta-se em palavras.

O maior receio é que sintam pena dela.
Assim, é a mulher alegre e optimista.
Enérgica, curiosa, aventureira.
Age como se não houvesse medo.

Mas sabe.

E com o segredo nas mãos, atravessa a inevitabilidade do momento em que sabe quando partirá.

E sorri.

sábado, 5 de dezembro de 2009

BEIJO PARTIDO


rasgo o beijo partido

com a boca vermelha
insulto tua boca
sorrindo na fotografia


Vania Lopez

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

O SÉTIMO DIA


Nada me precede.
Nada me sucederá.

Em sete dias me fiz mundo,
Em sete noites me desfiz.

A existência é um labirinto erguido.
Pedra sobre pedra.
Na soma da incerteza.
Na ímpar verdade do Arquitecto Só.

O Ser ausente é infinito esquecido.

Os caminhos são espelhos de água.
Pegadas no tempo, a destempo.

(De meu corpo nasce teu corpo.
Corpo no barro moldado,
Criado por outra mão.

Nu é o desejo revelado.
A demora do toque
É subtileza da razão).

Uno é o Dia e a Noite.
Amargo é o travo da maçã
E o remorso da serpente.

Sou réplica mimética,
Dor disforme em forma geométrica.

Os sonhos são espelho em chama.
Corredores perdidos, perversos.
Errantes versos.
Portas atravessadas para salas estranhas.
Confusas.
Alas desarrumadas em gavetas divergentes.

É esta a Epístola Profana,
Da Obra inacabada.
De mim nada restará,
Nem o que me antecedeu.

Foi no Sétimo Dia que Deus morreu

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Trilhos (P/Vânia Lopez)

(Imagem google)
*
Talhados pelas mãos do destino
ou por quem nos molda os dias
em jeito de sina
breve, muito breve
consente-se no triunfo
enquanto a noite é menina
e os dias passam desnorteados

Sem eira nem beira
acostumados a serem um só
nos trilhos pensados
ficam sós nos telhados das casas
enquanto a noite adormece no teu sorriso
*
Agradeço â Vânia Lopes pela inspiração aqui:

http://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=108699

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Entre mim e o futuro.




Entre mim e o futuro
existem pontes suspensas no tempo
que atravesso devagar
São de de madeiras preciosas
de esperança nascidas
sustentáculo deste meu longo
caminhar.


Existem abismos
que tento sempre ultrapassar
agarrando. me aos frágeis fios
da existência
sentimentos, emoções
na ânsia de me sustentar.

Existem raios de luz
que iluminam o meu caminhar
promessas de novos mundos
novos tempos
outros olhares.

Foto-Nini

Maçã de Junho


Escreve sem nexo com a tontura dos analgésicos a fazer efeito. Procura as teclas numa lentidão enervante, nem dá conta dos erros. O corpo busca descanso. A alma busca paz. Nem é chamada de atenção, é vergonha de viver depois de tanta dor.É o não saber ver para além de si própria, dos amigos que aguardam a sua chegada triunfante de uma fase menos boa. Tanta dor repetida, que apetece parar o corpo, deitar num banco de jardim ao relento, num jardim onde foi feliz na infância, Santa Catarina. Vai para lá em pensamento rebolar-se na relva, escuta as gargalhadas infantis, cristalinas, sorri aos jornalistas de "O Século", a menina das longas tranças, inocente e feliz. É a que anda de baloiço, de joelhos esfolados, que salta à corda, que brinca às cinco pedrinhas. De bata branca, espera a mãe, que nunca mais chega. Sou eu...Em memórias do início do fim.

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

6º Sentido

O homem tocou a terra
Agarrou-a com suas mãos e
Desfê-la entre os dedos

Foi ínfimo grão
Torrão,
Terno
Tenaz
Testemunhou o Sol

Com o respeito que se há-de dar
Aquela que um dia será mãe

A taipa, ergue-se estátua
Urgente, fecunda
Ao homem
E desperta um novo sentido

Sentir que ainda não é o céu

Alice no país das aparências


Por mais que o tempo passe eu me recuso
A dar por finda a alma de menino,
Porque se faço assim me tenho excluso
E sendo só adulto me confino

No rol da pequenez e da mesmice
Que abunda nesta terra tão tacanha;
Melhor viver assim como Alice
Do que me aventurar nesta façanha

De dar à vida, assim, um tom tão sóbrio
Ou boicotar-me à sombra do status
Por ter que digerir incoerências.

Prefiro ser menino a ser tão óbvio;
Viver se repetindo aos mesmos fatos,
Bailando no país das aparências.


Frederico Salvo

Putrefacção

…nas palavras
silenciosas
sofro
(…)
putrefaço-me
e do cheiro pestilento
o corpo reclama
mais dor
por não as declamar
(covarde digo eu)

Fascinação

Foto de Robert Mapplethorpe


Recordo
a (con)fusão dos corpos
em inúmeras essências
pele de seda
(que não pode ser de lobo)
o restaurante de peixe em Milão
o passeio de Alcântara
e
as ruas de Praga
em que a tua mão
era
o saber do meu corpo tatuado no teu
em molde de areia
húmida
a excitação no sabor
a sexo
em aromas
(de chá)
tanto quanto os idiomas
(de línguas)
t(r)ocadas
as fotografias
dos dias
em anúncios de desespero
ou humor.

Sinto
o teu corpo no deserto
(que sou eu)
onde se apagam fogos de olhar
em frente
à noite que chega
o luar
é o reflexo apagado do espelho
por mirar
meu amor sem nome
quantas palavras
escondes
em lugares secretos
abertos
à imaginação sem pudor.

Assim a memória de nós
num beijo
iventa(n)do
a tarde nas noites que jamais teremos
em que
sem sabermos,
trocámos as almas
nos corpos nus
e tu és eu
e
eu sou tu.

Será que os outros darão pela diferença?

domingo, 29 de novembro de 2009

OS AFECTOS


Os afectos, disseste, são como as flores,

rosas, gladíolos ou simples urzes:

Brotam, desabrocham ou apenas definham,

como uma acidental conversa ao fim de tarde,

aspirando a brisa que sopra de mansinho.


Na monda dos afectos, é fugaz, Cibele,

a botânica gentil dos sentimentos.



arlindo mota

foto e poema

Para vós, mulheres

[imagem do site olhares)

Nasceram tímidas
em sulcos inconfessos do viver,
escravas dos dias possantes,
calvas de terror místico
ou húmidas de submissas,
carne que o macho fecunda
por capricho de a querer cativa.

Foram inatas germinadoras
de reprodutores carnais,
tão longínquas
que nem sentiam o júbilo prazer
subir nos ossos dos seus entalhes,
apontados sem remorsos
na obrigação de criar os seus.

Anos passaram.
Séculos de desejo oprimido,
cultos de mãe
em templos de razão.
Fêmea de um só mercador
que a embriaguez sovava e vendia,
ao preço de uma discussão
sem diálogo,
por um pouco de pão e dor.

Cresceram revoltas,
motins de vergonha, pesadelos
conquistaram um vazio
que sempre foi seu,
mas que a voz máscula
confinou ao fracasso.
Tornaram-se ousadas
como os homens ousados foram,
disseram ao mundo
o sentido condigno do querer
tão visível
que os carrascos lhes foram
comer à mão.

Quiseram ser grandes
e foram enormes.
Tiveram medos
mas foram audazes,
lutaram amarguras,
decidiram momentos de decisão,
e amaram os homens
com gemidos de intimidade
que eles jamais haviam amado.

Criaram seus filhos
com o mesmo ensinamento
de suas mães,
gritaram trabalho
e num rasgo de independência
quiseram ser livres
e foram a liberdade,
a boca reivindicando igualdade.
Foram a evidência
das suas vontades,
nos lábios dos severos justos.

… Numa admiração às suas vitórias
tão duramente esboçadas
quão difíceis de encetar gloriosas,
a vingança tardia,
de quantas inúmeras mulheres,
por elas foram lápides
antes da morte!
Fossem os homens justos
e nenhuma mulher
seria a ausência…

… como foi possível
tantos anos, tanto egoísmo
se homem e mulher
são diagonais da mesma ossada,
que se interceptam
em qualquer ponto
de uma recta algures,
onde a vida
completa a vida!

José António Antunes

sábado, 28 de novembro de 2009

Troca


Me abraçou forte
bem apertado
suave foi a troca de facadas
tão suave que o amor
demorou a fechar os olhos


Vania Lopez

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Profecias

Há nos limiares do tempo
Um pendular suspenso que balança…
E me equilibra noutra dança
Mas o meu corpo é o re-verso na ténue faísca
Onde nasce a luz uniforme do meu olhar

Caminhos intransponíveis neste renascer
Onde o verbo É
E deixa de Ser
Quando consente que nos limites
Se consiga verbalizar
Sobre o Cosmos re-unificado

- Como abrir os olhos e falar-vos sobre um cometa
Que rasgou a atmosfera neste leve balançar?

Há um estado de fidalguia nos seus versos
Simples melodias esgrimam o ar
E esta espera…
Que sempre me desespera

- Ler-te no infinito...poeta do meu altar
É re-escrever-me no mesmo lugar
De onde me viste chegar…

Leva-me sempre por outros trilhos que também pisa
E sabe que o meu corpo se espreguiça nos seus versos
Mas , mesmo assim , não pára de me fazer doer
É como sentir a terra a tremer...

- E o frio encolher-me toda neste corpo, preso á vida

Já não posso caminhar sobre o seu ventre
Vou fincar-me na extensão breve do tempo
E absorver dele a fina corrente

Insígnia das utopias de um profeta
Que marcou encontro com certas profecias
Que, sem saber se é poeta,
Por profeta ser
Remete-se para a magistral leveza do Ser
*
Agradeço ao poeta Filipe Campos Melo (Giraldoff)
pela inspiração que resultou de um comentário aqui:
http://www.worldartfriends.com/modules/publisher/article.php?storyid=15147

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

A última vez...



imagem do site olhares.com da autora Marta Ferreira


O corpo oscila
Em marcas invisíveis
Aos mais atentos olhares,
Cambaleia
Decaí
Recomeça
Na alma acende a esperança
De uma última vez…

Nas mãos bastiães
Sem dó nem piedade
Em intervalos de amor
Palavras que matam e ferem
Com lâmina afiada
Numa guilhotina
Apontada ao elo mais fraco…

Goteja
Em busca de explicação
Na lógica do perdão…
Desculpa na culpa
Sem inculpa,
Perto da paixão que um dia
Sorriu num sonho
Alongado ao futuro…

Um dia mais…
Agora é tarde
Jaz em terras frias
Num pesadelo terminado
Em braços de cobardia
Nos laços de coragem
Que não conseguiu partir…


25 Novembro - Dia Mundial para a Eliminação da Violência contra as Mulheres


Ana Coelho


Porque




O meu coração é um diospiro amadurecido pelo teu amor






Puro o ri(s)o de lágrimas doces

pranto

encanto

olhos na alma

liquidambar de sentidos...




E a minha sombra aponta sempre (n)a tua direcção.

terça-feira, 24 de novembro de 2009

PELO RESTO DO CAMINHO...


Fui tocada por uma presença, me vi voltando

estranhamente encabulada pela atmosfera que causava.
As mãos, sua maneira de ouvir, dizer,
foi criando sabores que falavam de mim, pensavam
alto.
Seu olhar queria tanto, suprimia o que em mim vagueia,
me mantinha dentro de mim o tempo todo,
causando tumulto interior. Seu sorriso e olhar
passou a ficar por dentro.
Me esquecia em seus olhos, passaste com o tempo
a criar gosto e sair, ficar ao meu lado, ora
desapercebido, ora sonoro e atrevido, sentava
perto de mim e abria a conversa em momentos
inusitados, fazia da distância uma curva do
pensamento.
A partir desse momento passei a ser chicoteada pelo destino e meus dias se tornaram tranquilos.
Agora vive ao meu lado.
Minhas mãos aprendem a tocar e mudo de lugar,
passo a sentir com a mão no peito seu toque
no meu mundo.
E o restante do tempo olho ao redor, sinto te
perder tanto pelo resto do caminho que passei
a gritar.

Vania Lopez

domingo, 22 de novembro de 2009

O Outro

Sinto um som estranho
Para lá da porta fechada
Eu não sou, estou por cá
A ti não te espero
Perdi-te já faz tempo
Será o futuro a assobiar
Ou o passado a agoniar

Na mesinha de cabeceira
Vive a moldura
Habita por lá um rapaz
Veste calções
Abato-a com um olhar
Viro-me
Aconchego-me
Arrumo um sonho
E parto
José Luís Lopes

sábado, 21 de novembro de 2009

Imperfeito


Pudesse desfazer o que foi feito.
Tivesse como ter o que não posso.
Se fosse qualidade o meu defeito
E o drama de viver não fosse nosso.
Se Cristo fosse o próximo eleito
E a perna alcançasse além do passo.
Se não houvesse tanto preconceito
E a vida afrouxasse um pouco o laço.
Seria eu o mesmo que escreve
O desconsolo num soneto breve?
Seriam assim as linhas que eu traço?
Melhor que seja mesmo desse jeito,
Pois tudo o que no mundo tenho feito
É por não ser perfeito que o faço.


Frederico Salvo

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

A queda de uma folha

Antes de morrer
As folhas
Curvam seus veios
Tornam-se aladas
Firmam formas flácidas
Fazem-se leves
E soltam-se pelo leme

Ao cair
Rodopiam
Piruetam
Dançam
Descem
Planam
Invertem movimentos
Sobem
E rodopiando
Voltam a cair…
Suaves.

Docemente
As folhas
Tocam a terra
E não morrem

Ninguém chora
Ninguém ri
Não há aplausos
Circos, acrobatas
Festas, fogo
Fado, foguetes, flores
Não é Carnaval
Não há presentes
Andarilhos
Promessas, pragas
Não se faz Poente

As folhas simplesmente
Caem, não morrendo
E tocam a terra, docemente

Sonhos Teus (Para Ana Coelho)


Serenas emoções
Doces tempos
Em que te via
A soletrar palavras
Só palavras soltas
Em poemas inacabados

Verdades tuas
Empoleiradas
Nos telhados
Sonhos teus
E um mundo
A cair-te nos braços

É como adormecer
Em fardos leves
Tecidos em fios de algodão
Tão doces nos canteiros
E nos jardins proibidos
Como um beijo teu

*
(Para a Ana Coelho pelo seu aniversário)

Liberdade



Solta-se do casulo onde permanece há dias, sem se mexer, nem falar, nem pensar. Mesmo o respirar é alternado com o pestanejar, para que as lágrimas não a engasguem.

Posição difícil, a estática para quem não consegue ficar segundos sossegada. É como uma punição, uma espécie de exercício mental e físico, como que a demonstrar a a vontade de que é feita, que tudo pode, se quiser. Quando apenas depende dela.

O mundo gira à sua volta, escuta vozes de preocupação, mas o estado amorfo faz com que finja que dorme. Tantas horas seguidas, será que acordará? Ao fim de vinte horas conseguem alimentá-la, levanta-se cambaleante, os músculos estiveram sossegados tempos demais (as tonturas são só dos analgésicos, para que nada sentisse).

Engana e engana-se! Mais uma vez preferia não ter acordado, mas que se dane, ama a vida e há-de sobreviver, ou melhor viver em pleno, o Verão que está a chegar. E as cerejas e os díospiros e o mar que a aguarda, assim o Sol, apesar de mais uma semana extenuante em hospitais e clínicas.

Mas já não receia o dia seguinte. Nem as noites solitárias em que adormece sem dormir. Aprendeu que qualquer coisa é melhor que a letargia e a alienação. Até a dor. Sentir.

Sentir a brisa do Verão, os pingos de chuva na face, os amigos que se preocupam, os mimos que nunca são demais....Sentir os amores que se multiplicam a cada olhar. Sentir o frio, o ardor, o coração nas mãos, o sorriso da filha, as gargalhas dos jovens. O choro dos bebés que não terá, mas que embalará em canções de carinho, numa voz calma e repousante.

Então, desenrosca-se da posição fetal, agarra as mãos que a puxam e levanta-se, cambaleante, mas com o destino traçado em direcção à liberdade de SER MULHER.

Para sempre.
Acelerada, a tentar recuperar o tempo perdido. E sorri!


(Há quem diga que há-de morrer à velocidade a que vive!)

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Despertar




Olha em redor, sem saber onde está. A náusea saboreada num esgar de dor.
O ventre vazio. Para sempre. Tenta cortar o cordão umbilical com os dentes, tal a revolta da traição. A ausência do amor que a preenchia.
Adormece num vómito engolido.
Ao longe "Ave Maria" de Schubert. Terá chegado ao Paraíso? É um mundo de luz, feito de azul. Veste de branco e está linda. Os cabelos cor da infância, castanho cobre, alourados pelo Sol. Levita no espaço sideral, montanhas em rios, para além do mar. A Lua Cheia no seu máximo. E é dia. A memória não dói. Não existe em pensamento, apenas numa volatilidade de almas sem corpos, em esferas líquidas de sobrenatural.
Sem olhar, percorre o caminho, sem pressa. Sem saber o destino. A viagem não deixa marcas visíveis no olhar que esconde a dor. Está quase a chegar quando se apercebe dum ambiente que reconhece.
Acorda sem saber que tinha adormecido. Acorda sem querer acordar. Desperta para a realidade num doer fora de tempo. O coração acelera, as pálpebras entreabrem-se, agita-se o corpo num choro convulsivo de lamento sem perdão.
Ensaia uns passos até à paz e num sorriso indefinido, atravessa a solidão com a esperança no olhar.

É noite de Lua Cheia.
E o amor permanece numa angústia por dissolver.

terça-feira, 17 de novembro de 2009


Sei lá...
Como vim aqui parar
foram os cheiros das palavras
tantas vezes derramado em papel
almiscar.

Branco como a cor da paz
que ternamente vez em meu
olhar
branco como a esperança
em que me visto a cada
despertar.

Foram os cheiros dos sonhos
das emoções ,de novos caminhos
a desbravar.




São linhas que se cruzam num
olhar
que se encontra na invisibilidade
do tempo.
São os laços que se enlaçam em mentes
a despertar.
São palavras que se lavram na memoria
do tempo
que veremos num futuro proximo
germinar.

Sei lá.....
se estarei à altura dos sonhos que esperas
alcançar.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

O SEGREDO DAS PALAVRAS



0 sonho, Cibele, é uma taça, uma flor ignota, um desejo imenso
que persiste, mesmo se a dor ao colhê-lo o ignore. Cativo, neste lugar,
perco a exacta noção do ser e do não ser, do tudo ou do nada,
( se é que o todo pode estar circunscrito à palavra…)

Procurarás as estrelas, que iluminarão o caminho. Se solitário, a luz é mais intensa.

Despojada de tudo, encontrarás o segredo das palavras:
ternura, amor, ou apenas sede e um sereno gesto a partilhar
na colheita de uma rosa brava.


Arlindo Mota
foto e poema

domingo, 15 de novembro de 2009

Por uma força que eu desconheço...




 
se mudas o timbre da palavra
as nuvens se retiram
ficam no colo do céu caídas no chão
se um véu te cobre
é quando o inesperado acontece
aceito o que vai me propor
e prometo o que pensaste
se vens no voo de uma andorinha
florescem galhos, fios da semente
a terra fortalece a raíz
o pensamento afofa o seu pousar
o que devo fazer
é o que me procura nesse ninho
se descansas da noite
vivendo o dia
com o mesmo entusiasmo
o sol se enche de estrelas
e te faz noite desse dia
se chegas com o vento afoito no laço
puxando a toalha do chão
arrastando calçadas
dividindo corpo e alma
razão e emoção
vou escorando minhas paredes
cantando uma canção
por uma força que desconheço
e sutilmente me reconhece
imediatamente
profundamente

Vania Lopez

sábado, 14 de novembro de 2009

Amanhã, sei lá



Eis-me diante de ti amanhã,
deslumbrado em giestas de luz,
sorrisos e afincos,
receios hirtos e verves,
emoções aos rodos
por chãos que nunca vesti.
... e se tu amanhã fosses hoje,
capciosamente sentido
como serias tu amanhã?

Tu não sabes
e eu sei lá!

José António Antunes

Poema divino


O poema divino tem palavras tantas
E, no entanto, nenhuma delas se repete.
A nenhuma, domínio sobr’outra, compete.
Nem mesmo às ditas chulas, nem às ditas santas.
O poema divino é poesia branca,
Onde rimas se dão por outras competências.
Métrica? Desafia o poder das ciências.
Ritmo? A qualquer estilo, a qualquer forma, desbanca.
No poema divino, cada ser humano
É uma palavra única, um verbo soberano
A projetar o bem e o mal que a vida canta.
E assim, por ser divino, é incompreensível;
Ao mesmo tempo é claro e é indecifrável.
Aos olhos de quem lê, escandaliza e encanta.


Frederico Salvo

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Contudo, sei lá!!


[foto do site olhares.com do autor Nobre]

Sei lá!

Que sentido
Têm as palavras
Que nascem assim
Inesperadamente
Na inspiração do momento...

Caem em cascata
Numa nuvem elevada
No ventre do vento
Transparente véu
No mais alto do céu
Renascidas na fonte
Eterna na linha da vida...

Silabas vividas
no intimo sentido
nas mãos que bebem amor...

Contudo
Sei lá!
Se é poesia...

Ana Coelho

A Vida é Opaca e o Louco Ri





Nasci cor.
Nos tons do sonho,
Um sonho profundo.
Mudar, mudar o mundo.

Queria ser Poeta, partir á descoberta.
Inventar novas letras, inverter antigos versos.
Voar nas asas do tempo,
Passar além do firmamento.

(Nublosas são as terras da insânia,
Complexo é o sorriso do louco.
Palavra branca em tela negra.
Crença dispersa. Pouco a Pouco).


Nasci dor.
Em mágoa sem tom,
Ao som da melancolia.
Desespero profundo,
Existir aqui, aqui neste mundo.

Decepados os andares,
Suplicados os fonemas.
Negra á a lousa da calçada.
No reflexo transverso,
Subsisto sem pertexto,
No pertexto do nada.

(Apenas queria ser Poeta,
Elevar as utopias perdidas.
Nas alturas pintar um porto,
Em nuvem deitar meu corpo).

A vida é opaca e o louco ri