sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Liberdade



Solta-se do casulo onde permanece há dias, sem se mexer, nem falar, nem pensar. Mesmo o respirar é alternado com o pestanejar, para que as lágrimas não a engasguem.

Posição difícil, a estática para quem não consegue ficar segundos sossegada. É como uma punição, uma espécie de exercício mental e físico, como que a demonstrar a a vontade de que é feita, que tudo pode, se quiser. Quando apenas depende dela.

O mundo gira à sua volta, escuta vozes de preocupação, mas o estado amorfo faz com que finja que dorme. Tantas horas seguidas, será que acordará? Ao fim de vinte horas conseguem alimentá-la, levanta-se cambaleante, os músculos estiveram sossegados tempos demais (as tonturas são só dos analgésicos, para que nada sentisse).

Engana e engana-se! Mais uma vez preferia não ter acordado, mas que se dane, ama a vida e há-de sobreviver, ou melhor viver em pleno, o Verão que está a chegar. E as cerejas e os díospiros e o mar que a aguarda, assim o Sol, apesar de mais uma semana extenuante em hospitais e clínicas.

Mas já não receia o dia seguinte. Nem as noites solitárias em que adormece sem dormir. Aprendeu que qualquer coisa é melhor que a letargia e a alienação. Até a dor. Sentir.

Sentir a brisa do Verão, os pingos de chuva na face, os amigos que se preocupam, os mimos que nunca são demais....Sentir os amores que se multiplicam a cada olhar. Sentir o frio, o ardor, o coração nas mãos, o sorriso da filha, as gargalhas dos jovens. O choro dos bebés que não terá, mas que embalará em canções de carinho, numa voz calma e repousante.

Então, desenrosca-se da posição fetal, agarra as mãos que a puxam e levanta-se, cambaleante, mas com o destino traçado em direcção à liberdade de SER MULHER.

Para sempre.
Acelerada, a tentar recuperar o tempo perdido. E sorri!


(Há quem diga que há-de morrer à velocidade a que vive!)

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