sábado, 30 de janeiro de 2010

Sob um facho de luz


Na platéia às escuras, sozinho...
Em silêncio, ao abrir das cortinas;
Num cenário de horas vespertinas,
Vejo um vulto surgir num caminho.
Feito um anjo em corpo feminino,
Uma deusa ao som do bolero.
(num suspiro contido eu espero,
deslumbrado como se menino).
Ouço a música crescer em dinâmica
E os tambores febris da sinfônica
A rufarem magia profusa.
Bem no ápice da cena eis que salta
Claro facho de luz da ribalta
E ilumina o sorriso da musa.


(palmas ecoando no teatro vazio).


Frederico Salvo

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Hoje tenho amigos em casa


Hoje tenho amigos em casa

Sabe Domingos!

Na maior parte dos dias tento escrever, já percebi que não é fácil.

Mas hoje, fechei o atliê e tentei fazer uma festa.

A sala era pequena, encostei então as palavras para o lado, arrumei o lápis e a borracha por baixo de uma resma de papel, e pronto…

Chamei uns amigos apenas para lhes dizer que tinha um feito, eles não quiseram saber.

São meus amigos, por isso festejaram comigo.

Amanhã, arrumarei tudo no seu lugar, menos as imagens dos amigos,

Essas,

Vão continuar por aqui a festejar, ajudam-me a escrever…

Abraço Grato

JLL

Este texto é um comentário a um comentário do Poeta Domingos Mota (fogomaduro) ao meu texto “100 – Carta aberta de um amador das letras”

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Dia sim Dia sim...


Trajei a tarde
com o sol que agasalhou
os meus cabelos.

Dessa luz
alaguei meu peito
e fiquei disposta
a firmar meu dia.

Artilhei-me de sorrisos
e segui trilho ao meu destino.

Corri e crucifiquei-me
comi e bebi o café mais afável.

Entre papéis e palavras
fui atendendo
que desmereci-me.

Exausta de alento
parei-me
num porquê quase ameno.

Pensar
que trajei-me da tarde
com o sol sorrindo
nos meus cabelos.

Quebrei só
a esfriar-me de tão repente
na hora de ir embora.
.

domingo, 24 de janeiro de 2010

QUANDO EU ME FOR EMBORA


QUANDO EU ME FOR EMBORA

Quando eu me for embora, levarei comigo
a madrugada e de meu pai, suas mãos rudes,
com que moldava, a golpes incisivos, um tronco frágil
insubmisso, sempre em sentido vertical.
De minha mãe, não esqueço, a ternura que mandava, disfarçada,
por entre o pão suado e a manteiga. Assim cresci.

Quando eu me for embora, também não esquecerei os luares
que percorri, envolto em ti, sem precisar de leito. Assim cresci.

Mais tarde, pouco mais, hei-de lembrar-me daquilo que não fiz.
Mas quando eu me for embora, é porque morri, cá dentro,
por não saber cuidar de ti, amor-perfeito.

Arlindo Mota
(Arfemo)


Foto: Pedro Soares

sábado, 23 de janeiro de 2010

...de nuvem em nuvem caminham mil beijos vestidos de branco

Quando chegarem não te assustes

Disse-lhes para te vestirem dos pés à cabeça

Mas um deles, especial, vai dizer-te ao ouvido

Que gosto muito de ti.

Dedicado à minha Amiga Vânia

José Luís Lopes

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Tarde de outono.




Uma tarde de outono
um rio que descansa
nos braços abertos
da ria deitada em lençóis
brancos de sal e maresia
Uma esplanada em abandono
e a amizade que acontece
Um olhar, um sorriso
confidencias de fim de dia
sentimentos que permanecem
na louca voragem
da ventania
O inverno que chega
cristaliza as águas da ria
sentimentos que adormecem
nas noites longas
até ao raiar do dia.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

O espectáculo da ausência!

.

Trago o mundo
pesado em minhas mãos!

.
No prazer ser o prazer
que de ti advém!

.
Meu amor,
é muito maior que o meu pensar
e um só querer!

.
A felicidade enganou-me uma vez!
.
Sou hora
sou minuto
sou um simples segundo
de respiração!

.
A vida evapora-se
os entusiasmos são lentos
o tempo, veloz!

.
Mas não me deixes!
Não me deixes entregue
a este abandono!

.

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Elipse interrompida


Se há ciclos naturais que se fecham perfeitamente
Como o evaporar da água e o precipitar da chuva,
Como os dias e noites que se encaixam como luva,
Cedendo lugar um ao outro... sucessivamente.
Ou ainda como a semente, essência dentro da fruta,
Que mais tarde engravida a terra e vinga germinando
Dando seqüência à vida que contínua vai girando
Num desenrolar infindável, numa eterna permuta;
Sigo a pensar solitário sobre algo que me intriga:
Se todo ciclo se fecha; isso nos dá um norte.
Há uma coisa incompleta, uma elipse interrompida,
Uma peça sem encaixe, uma ponta que não liga.
Se na vida, naturalmente, encontraremos a morte;
Na morte, certamente, há que se encontrar a vida.


Frederico Salvo

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Reflexos do firmamento-foto-Dolores Marques

Vidas em repouso
navio atracado ao cais
onde os sonhos
adormecem e acordam
num leito
de palavras feitas
rios mansos
de ternura
e encanto.

E este céu
que me contempla
do alto
reflexos de um Deus
que me protege
e ilumina.

E eu
ser minúsculo
perdido na imensidão
do universo
vagueio por entre
as sombras e a luz
reflexos do firmamento
que me atrai
e seduz.

Cilindros Mágicos (P/JLL)

( Foto, Dolores Marques)
*
Por mais negro que seja o traje
Que me cobre de outros tempos
Há sempre uma nova luz
A indicar-me o caminho
*
Será como um velho farol danificado
Que se presta no mar alto
A tudo…
E me fará resgatar-te
Num cálida manhã primaveril
Ateando o fogo adormecido
Dos cilindros que tocam os céus
Amedrontando os fantasmas do passado

Sujeito-me (P/Arfemo)

Foto, Dolores Marques - sobrevoando o Rio Tejo
*

gosto de saber que me sujeito

deliberadamente

sujeitando-me a ser um nome

no meio de tantos outros

em nome de algo que seja

a liberdade...
*
(Sou eu…sou assim na vontade)
*
Inspirado num outro de Arfemo, aqui:

Sou um vai e vem ...



.

Sou um vai e vem
a querer matar-me!
Por entre carícias,
um beijo lento
sou fugaz no pensamento
prestes a surrealizar-me!
.
Vejo olhar distante, tão perto!
.
Sou um vai e vem
nos teus olhos de água corrente...
.
Vou entre as tulipas do campo, e volto
num interior derrubante
voraz que agora canto.
.
Acende-me! Incendeia-me no teu peito!
Como as teimosas flores agrestes do campo.
Sou um anjo adormecido
és um sol esquecido e vou num vai e vem solto
a queimar-me, a matar-me, a querer-te!
Esconde-me, oh mesclado vento!
.

sábado, 16 de janeiro de 2010

Quando lembrares um poeta

Se um dia
vires um homem chorar.
E se o seu rosto
for um poema esculpido,
deita-te a seu lado,
repousa teu corpo sobre o seu
e chora com ele,
porque a dor naufraga
também será a tua lágrima.

Se olhares em volta
e vires um poeta sorrir,
então, ama-o
no ímpeto dos seus lábios,
em migrações de um afago
num poema
que é aquilo que dele fizeres!...

Se não vires poeta algum,
nem crianças brincando sós,
senta-te na sua ausência
e aguarda
pois a noite é cúmplice do desejo,
e os poetas calam
mas não morrem,
enquanto os teus braços quentes
forem a tentação dos corpos nus,
pelo suor em que sou poeta
…onde sou por ti possuído,
E tu, mulher amada…

Mas se jamais
foste tocada pelo poeta.
acautela-te
porque os seus seios de macho,
se sugam sublimes poesias,
que no leito do teu sono
contigo fará amor
sempre que o sentires dormir em ti.

- na ânsia do beijo,
Sonha-se…

…no entanto
os poemas serão grilhetas…
e o poeta teu prisioneiro!

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Carícias



.

Sonho contigo a tempo inteiro
Tu és quem guia meu sonho até ao infinito
No infinito te vejo sorrindo
De braços abertos na palavra, quero-te
O tempo passa velozmente
Meu eu é teu eu sorridente no meu
Por marte e por lua voa no teu
Em palavras queridas do simples destino
Abraço teu beijo e tu me acaricias

.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Força Viva (Para Carlos Conchinha)

(Foto de Carlos Conchinha)
*
Sempre que te leio
sinto uma força que se levanta
a cada amanhecer
a cada por de sol
a cada visualização de uma estrela
que brilha no firmamento
*
Sentir que a cada palavra tua
me encontro entre o céu e a terra
é uma constatação
de que a vida é uma constante
movimentação dos corpos
em várias direcções
e dimensões
*
Inspirado num outro, de Conchinha, aqui:
http://www.worldartfriends.com/modules/publisher/article.php?storyid=16317

Tango


No último vagão da última viagem;
No auge da emoção, na ânsia prorrogada.
Aos ecos da canção há muito não tocada,
Levando a solidão rugindo na bagagem.

Partido coração, partindo rumo ao nada;
Estúpida razão roendo a paisagem.
Na réstia da paixão luzindo a tua imagem,
Um sentimento vão, a dor indesejada.

Estranho esse amor, enfeita-se de engodo;
Convida-me a dançar um tango sobre o lodo.
Tufão tão furibundo em trajes de aragem.

Talvez, sem meu olhar, o mal nem seja tanto
E haja mesmo ardor a florescer, no entanto,
Um pé vai no vagão o outro na paragem.


Frederico Salvo

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Ilha dos Amores

Halberger Photographers


As marés do teu corpo

na casa sonhada
em varandas e sacadas de azul.

A praia dentro da sala
o piano junto ao mar
a cama de rede no pinhal em redor do vento.

Palavras proibidas
que os lábios
ousaram

projectos ilegíveis

sonhos infinitos
perseguidos
no
acordar
das almas.

Vence o silêncio.
A memória tortura.

Caminho lento, o que leva ao acordar.

Breve pressão dos teus dedos
em anéis
por t(r)ocar.

Aliança breve
num despontar de gestos sôfregos
em que o sentir
era o mundo descoberto
a seguir.

Calam-se os aromas.
Trancam-se as janelas.

O teu sorriso é uma porta entreaberta.

Fecho-me em ti e parto em direcção ao que jamais teremos.

Então,
uma memória que atraiçoa.
E dói.

Sem piedade.

E é dia.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Todas as Verdades (Para Frederico Salvo)

(Desenhado por Frederico Salvo)

*
quem me quer eu não sei
mas sei de todas as verdades
que os ventos carregam
de todos os fardos
que as montanhas abafam
de todos os rios
e de todos os mares
que afundaram
as lágrimas da saudade...

e eu por aqui
só te via a ti
nessa exactidão
de um momento só teu
*
Grata a Frederico Salvo, aqui:
http://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=112478

O Grito



Dizem por aí
Que se diz muito em poucas palavras
Às vezes acredito
Penso que sou poeta
Iludo-me
E quero acreditar
Que sou fenomenal
Único
E mesmo sem falar
Basta-me um gesto
Para ser um génio do amor
Translúcido
Penso eu.
Então digo-me:
É verdade
Não escrevas
Não fales
Sorri apenas
Alguém acreditará que és especial.
Mas depois
Já nu
De tanto meditar
Escolho um mundo:
Redondo
Azul
Com mares
Com alma, sol e sal
Cheio de gente como eu
Aqueles que são poetas só às vezes
Esfrego os olhos
E vejo
Lá no fundo
Onde a luz é escassa
E as sombras são vida
O choro
Esse…
Que nunca se ouve
É onde os poetas de verdade se tornam homens
Onde nascem as dores
As desilusões
As emoções
As perdas
As saudades
As pessoas perdidas
Os tempos passados
Ou mesmo um grande esforço
Para se ser aquilo que nunca se será
E aí…
Sinto a falta das palavras.

Revejo os sons
Do que poderiam ser palavras faladas
Mas afinal são vaidades
De apenas terem tempo
Para o ego

Descubro então
Que afinal
Os poetas nada dizem
Eles
Dizem que dizem
Porque escrevem
Mas não transpiram
Não ofegam
Não sorriem
Não tocam
Não negam
Não gemem
Não olham
São papel…

Mas eu
Homem deste mundo
Redondo
Azul
Com mares
Com alma, sol e sal
Cheio de gente como eu
Esgotado para todos estes poetas
Digo-lhes:
Digam-me na cara
Nos olhos
Nesta alma que chora
Nesta vida que também é vossa
Digam-me
Apenas mais que uma palavra
Mesmo que seja
Gosto de ti
Mas não
Não…
Desculpem
Não chega
Eu quero mais
Quero que falem
De vocês
De mim
Do vizinho
Do irmão
Do vosso amigo
Do meu amigo
Do mundo
Do vosso mundo
Quero-vos sentados
Quero-vos ao meu lado
Quero esse vosso olhar
Mesmo feio
Ou bonito
Não interessa
Só quero que não escrevam
Quero que falem
Não se calem
Falem
Sejam poetas de verdade

josé luís lopes

domingo, 3 de janeiro de 2010

Meu sorriso é teu!




Sorri-me
de madrugada num corpo nu de prazer
ouço
estrelas cantar e luas que brilham no céu
foi teu corpo
meu corpo
teu olhar me seduziu
teu sorriso
dança dentro do meu
é teu
nasceste em mim
num primeiro dia que meu olhar te viu
embalas-me
com o teu cântico
e eu e eu
és tu o que de mim te deu
para o teu lado
é onde durmo melhor
*

escrito a 05.Out.09

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Encontros (P/Saozinha)



Procuras árduas
Inequívocas
Estigmatizadas
Auréolas debruadas a ouro
E o destino que o mundo tem
Nas mãos
Soergue-se dos medos
Impostos pelo pensar sofrido

Sou eu e tu
E tu e eu sempre
Em direcção ao Sol
Prestes a desaguar
Num olhar que aprende
Que os sinais evidentes
Clarearão as nuvens
E descerão dos céus
Escusos
Obtusos
Contínuos
Em busca de ti
E de nós

Aí somos a força contida
Num Universo despido
E somaremos o tudo
Num trajecto indefinido
Que traçará o novo caminho
Que nos levará em uníssono
Ao cume mais alto
E no encontro
Seremos um só
*
A uma pessoa que admiro e estimo, pela sua capacidade de amr e se transformar
Um beijo grande de parabéns pelo teu aniversário e um 2010 fantástico

Caminhos.




Nos laços que a vida nos lança
encontro os guias
nos caminhos da esperança.

nas estradas que temos que seguir
encontramos as pegadas certas
símbolos escondidos
no querer e no porvir.

Nos braços que se abrem e espera
encontro um um abrigo
esconderijo dos meus medos
na doce entrega
no olhar cúmplice de um amigo

nos mistérios que a vida nos estende
em lençóis de seda e de cetim
estendo-me neles
numa procura de paz
em encontros inequívocos
que fazes de ti em mim.



Um Exelente ano de 2010 a todos

Frenesi


Houve um frenesi aqui pela orla.
Sorrisos largos, abraços,
Um misto de esperança e choro
Regado a espumante.
Houve oferendas lançadas
A flor da água.... e risos
Muitos risos.
Depois foi a contagem regressiva
Num coro de vozes esverdeadas.
Mãos entrelaçadas, olhos cerrados,
Lágrimas.
No lugar do zero explodiu a pirotecnia.
Línguas de fogo no céu
Em contraste com outras em terra
Nas bocas abertas.
Olhos brilhantes e novos abraços.
Segredos ao pé de ouvidos. Beijos.
Narizes encontrados, olhos nos olhos.
Instantes mágicos e inebriantes...
Houve,
Ao longe ainda, passado algum tempo,
O espocar de algum foguete.
Depois...Outra vez a noite escura,
A água escura.
Aos poucos a brisa
Foi desfazendo
A densa camada de sonhos...
Lentamente...
E então,
Ao romper da aurora,
houve novamente
A mesma sensação de normalidade
Que havia
Antes do primeiro estouro.


Frederico Salvo