quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Último Pensamento do ano – Poeta Reflexivo


Mais vale ser rico, ter saúde e fazer boa poesia, do que pobre, doente e dar erros ortográficos.

Saio de 2009 com um sorriso maior que o mundo. As vossas palavras foram minha companhia diária na alegria e na tristeza. Por nunca me terem abandonado, estou-lhes grato pelo conforto que me proporcionaram. Faço votos de que continuem presentes no próximo ano, trajadas ainda mais de carinho e amizade.
Por mim, aqui estarei novamente grato e feliz por poder contar com a vossa presença mais uma vez.

Feliz Ano 2010

Beijos e Abraços

José Luís Lopes

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Chá Para Dois? (P/Anamar)


(imagem google - geometria sagrada)
*
Sei que te desnudas para seguires outros destinos
Sei do quanto amas intensamente a vida
Mas tu sabes que jamais ouvirás os sons da alma
Se não amares para lá da vida
E sabes o quanto me refaço para entender os teus sinais

(Mas…
Para quê inverter o destino
Submeter-nos às doces maravilhas do mundo
Se o ele sofre no nosso colo
Inanimado
Calado
Ensanguentado
Sucumbindo nas catacumbas de um novo alvorecer ?)

Sei-te mais que uma só Mulher
Viajando nos sonhos teus
Para me encontrares nos sonhos meus
Mas olha as várias luas que te abraçam
E o deserto que te suga os poros húmidos
E te realçam a aura límpida
Aglutinada pelos mares de outrora

Há um silêncio esmiuçando a vida
Que dedilhas sempre que olhas o teu céu
Há um deserto afundado
Nos rios que correm para o mar
E esses já te conhecem
Através de um novo olhar

Bebe deste cálice
O suco que te adoça os lábios
Iguarias trazidas das profundezas dos oceanos
Só para ti

Chá para dois?
*
Agradeço à Anamar a inspiraçao para este poema, aqui:
http://um-cha-no-deserto.blogspot.com/2009/12/o-beijo-prometido.html

domingo, 27 de dezembro de 2009

... rios mansos ...


*
Os prazeres que tenho
chegam de longe
vêm de longe
de muito longe daqui!
*
São prosas
são versos
são rios mansos
que desfilam por mim
como gansos
no firmamento
do meu ser.

*

Vínculos


[foto do site olhares.com do autor Bruno Figueira]


São elos que nos unem
Para além das palavras
Dos versos narrados,
No horizonte onde o fogo
Se une com o calor do olhar…

São albergues
Inovados em encontros
De luz
Na configuração esbelta
De Ser e ter
Laços aglutinados
Pela nobreza da transparência
E sentir plena a comunhão…

São vínculos
Antes impossíveis
Hoje eternos…



É tudo aquilo que nunca pedi
Mas a universalidade tal como edifica…

Inspirado aqui:

Parabéns Dolores por mais um ano da tua bela existência...

Ana Coelho

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Logo hoje que queria tanto falar!



















O silêncio apareceu!
Logo hoje que queria tanto falar!
Não posso esquecer que é Natal.
As ruas vestem-se de vermelho
E as pessoas de alegria,
Mas este silêncio disse-me para não fazer barulho:
- Pssss…! Cala-te.

Este Silêncio
Diz que não quer ser interrompido
Nos seus silêncios.
Disse-me também que, quando fala,
Não gosta de ouvir ruídos.
Estou atónito,
Logo hoje que queria tanto falar!
Então, estou em silêncio total,
Só falo por dentro.

A minha alegria, que não gosta de silêncios,
Deixou-me.
Disse-me que não estava para me aturar
E saiu.
Foi às compras, penso eu!
E com razão.
No Natal, este silêncio?
Quando todo o mundo, apesar de nada dizer,
Anda a fazer ruído.
Estou a perder a cabeça.
Logo hoje que queria tanto falar!
Este é um momento de…
Não silêncio.
Afinal, é Natal!
Até a racionalidade, por esta altura, está
Fora de si.
E eu por aqui abandonado,
Com esta dor feita do silêncio.
Ainda ontem estava feliz.
Estou agora sozinho, triste e em silêncio,
Tudo por causa de um silêncio estúpido
Que teima em aparecer por estas alturas.
Logo hoje que queria tanto falar!
Fico sem saber se este silêncio
Aparece apenas para me aborrecer,
Ou simplesmente para me dizer
Que ainda há muita gente,
Sem o perfume do Natal…

José Luís Lopes

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Surpresa

*

Sorvo na manga uma carta para ti
e na camisa o paladar do teu abraço
devoro no peito uma rosa cravada
na mão esquerda um sorriso
e na direita uma enxada fatigada
causo na mente o motivo por ver-te
e na ponta da minha vontade
laços de amor como ornatos
sepulto no olhar lágrimas do teu saber
e na boca o beijo por mimar-te

*


escrito a 11 Dez. 2009

domingo, 20 de dezembro de 2009

A lágrima morreu

Num caixão sem soalho,
a lágrima ia nua e singela
ia só nos despojos da vida,
ia sem voz nem beleza,
talvez morta pela míngua
talvez farta pela destreza,
mas no fim, a lágrima morreu…
foi uma septicemia fatal
uma dor ansiando ser tristeza,
ou uma tristeza ansiando esquecer,
mas a lágrima morreu,
morreu boçal e livre
num incesto de emoções,
morreu breve e solteira
como deve uma boa lágrima,
morreu apenas
sem sequelas para o coração,
morreu só, morreu chorando
a vida recauchutada
que lhe deu uma peritonite amiga!
A lágrima morreu,
Ficou o sal…

É assim o Natal



[foto do site olhares.com do autor Aires Osório)




É Natal

As ruas iluminadas
Em espelhos de luz
O amor que se reproduz
Em mil estrelas de alegria
No calor dos sorrisos
Vidas repletas de cor
É a magia do nascimento

É Natal
São pedaços de Deus
Pintados nos laços
Do aparecimento sublime
Jesus a voz viva do salvador
Em glórias do divino céu
Partilhas anunciadas
Na conciliação que reina

É Natal
Tempo de fraternidade
Em sopros de união
No trono da paz em cada coração
Erguem-se os símbolos
De vigor e esplendor
No mais íntimo sentido
Do verdadeiro amor divino

É assim o Natal…
Renasce o autêntico sentido da vida…

Ana Coelho


Feliz natal para todos e que o Natal chegue a cada coração

Em suspenso


Adormece, vida. Adormece.
E eu entrego-me a minha cama.
Em suspenso põe o nosso drama.
Enquanto esqueço, tu me esqueces.
Adormece, pois quem me ama
Já está guardado numa prece
E as dúvidas, que bem conheces,
Estão no bolso do pijama.
Adormece e por fim descansa
Das tarrafas que o convívio tece
E depois em nossas águas lança.
Vá. Repousa, pois a mim parece
Que por hoje basta essa aliança.
Boa noite, vida. Adormece.

Frederico Salvo

sábado, 19 de dezembro de 2009

Lusco Fusco


Saiu atrasada. Como sempre. Quase descomposta, o vestido amarrotado (a tentar telefonar-lhe enquanto aguardava o elevador e deixava os dossiers no secretariado) nos seus saltos altos em equilíbrio precário.

Esperava-a não muito perto, onde, no meio da multidão que sai dos empregos na pressa de chegar a casa, seriam mais um casal. A passar despercebidos. Em pecado. Desfrutado. Revivido. Intenso.

Mas sempre como se fosse a primeira vez.

Ele está no "café deles", jornal e bica na mesa.
Observa-o sempre através do vidro, antes de que ele a veja. Ou pensa que assim é...

E entra encantada, numa paixão adolescente, a diferença de idades não se sente. Somente na sensatez dele e na impulsividade dela. Quase feroz, arrebatadora.

Ergue o olhar, surpreso por ela já estar junto de si, tão absorvido que estava pela leitura . Porque por vezes, levanta-se e vem buscá-la à porta.
E ela sente-se a mulher mais amada do mundo, por a proteger assim.

Ele sorri e o mundo dela centra-se nele, naquele sorriso infinito que morrerá com ela.

Olham-se e o Mundo pára, avança, rodopia, muda. E no entanto, está tudo no seu lugar. Ele à frente dela à espera que lhe conte o dia, o que a deixa sem palavras porque estiveram sempre em contacto. Ela à espera que ele diga como foi o dele, que apesar do contacto e da faladora ser ela, tem sempre algo a acrescentar.

Entretanto o silêncio toma conta do momento, porque a olha, ela cora, adivinhando-lhe os pensamentos. Desejos escaldantes...

E ficam assim, sem falar, mão na mão sob a folha de jornal, numa contemplação mutua, embevecida e terna.

Mergulham os olhares e ela desperta com o gesto dele em dizer-lhe que são horas de ir, porque o semblante dele muda e ela percebe.
Ela tem o comboio para apanhar e ele o ensaio.

Caminham lado a lado, abraçados, passo acertado. Os coração batem, em uníssono no sentido dos ponteiros do relógio da Estação de Comboios.

Encosta-a suavemente contra o muro, afasta-lhe o cabelo dos olhos, sorri e beija-a num tocar de lábios indescritível, depressa uma boca na outra, as suas mãos nela... Estão em publico. Mas é lusco fusco.

Desprendem-se a custo, ele pergunta se ela quer levar o jornal.
Não.
Até casa, prefere ir pensando-o, sonhando com amanhã, em que a rotina não cansa. Só quer que ele não chegue atrasado ao ensaio...

Enquanto sobe as escadas, chega uma mensagem dele:"Adoro-te".

Ela também. E é assim , para sempre.

(Desde o tempo em que um guarda-chuva servia para abrigar os dois).

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

REFLEXÃO



REFLEXÃO


Subitamente

O rumo se fez tempo e ao longe

O amanhecer se recortara.


A quem cabe o fortuito,

O desgarrado,

O repensar o acaso, o absoluto,

O misterioso esgar e

A impoluta coragem,

A razão dia a dia perscrutada,

E a fuga ciclicamente repetida?


Arqueados, no cais, retomamos

O alento da manhã. Caminhamos.



Foto e poema: apm

Incertezas!

*
Imobilizada pela vida
Conto pelos dedos as minhas angústias
Sentada á janela dos sonhos
Numa falência moral que tenho!
*
Limito-me ao ser apaixonado que sou
sem nada receber na troca
Meu amor é só meu
E o papel desbota!
*
Meus sentimentos para onde vão?
Tens-me não pela boca mas pelo coração!
*

escrito a 06 Out. 2009

Um Sonho a Desaguar no teu Olhar(P/Saozinha)

(Imagem que faz parte da exposiçao de Jomasipe)
*
Neste templo interior onde o Natal tem o papel principal, lembro-te das cores que me vestem a alma e que te ofereço, sempre que passares na minha rua. Sabes que existe um pinheiro a tocar o céu embelezado com os sons que me chegam do outro lado? Sons diversos trazidos pelos ventos do norte que me carregaram ao colo enquanto criança e que me lembram um modo singular de Ser através dos movimentos circundantes à volta do mundo. Sãos estes círculos intensamente ajustados às novas formas de vida que se assemelham às tendências modernistas e "esquizofrénicas" que se prestam a novas tonalidades e caminham sempre para lá do imaginável mundo a seguir. Inspirando e expirando, até que venham à tona todos os males do nosso mundo e das outras gentes que os carregam uma vida inteira, até que se desfaçam os nós por nós ajustados à vida, formar-se-á um trio onde as arestas se toquem num tri-ângulo assertivo edificando as extremidades que se tocam num céu só nosso.


Caminho por todos os cantos que conheço em busca de um afago que me limpe a poeira que carrego. São grãos que me disponho a contar, sem contar com os dias e as noites que sonhei ser mais que um simples grão de areia no meio do deserto. Esta poeira que ocupa todos os recantos do espaço, criando caminhos diversos, em volta do Sol, originando novos mundos onde as estrelas terminem a sua viagem e se estatelem nos meus olhos. Levar-te-ei sempre a mais preferida, aquela que se reergueu a par do Sol Central e te conduziu pelas pradarias gigantescas que te circundam e te beliscam nas noites esbeltas, acariciadas pela transparência de um sonho que está prestes a desaguar no teu olhar. Se ouvires os sons internos da tua alma, serás sempre uma imagem transfigurada aos olhos de um único Deus que te conhece e que sempre esteve em ti. Conhecê-lo é vivenciar experiências que te levam por altares magnificentes condecorados com a tua imagem na matriz original.

(Agradeço a inspiração à Saozinha, aqui:
http://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=111284com

(alguns momentos do texto inspirados em geometria sagrada)

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Intensamente



Detesta camisas. Mas estas que usa sobre os tops, semi-transparentes dão-lhe uma elegância invulgar, a elegância interior que transparece quando fixa o firmamento, mesmo em dias de Sol escaldante.

O banco de jardim está só para ela, como o Verão está para um dia de praia. Senta-se à sombra do salgueiro, onde tantas vezes sonhou, confidenciou, namorou...

Passam vinte e cinco anos e reconhece os aromas, as cores, as sombras mais intensas pela densidade das folhas.

Descalça um pé, depois o outro, sente-se menina endiabrada, abraça as pernas recolhidas para cima do banco e pousa a cara nos joelhos. Atitude infantil, quase provocadora numa idade para ter juízo. Os colegas metem-se com ela. Acham-na demasiado calada, a ela que alcunhavam de tagarela. Por outro lado, sempre teve destes momentos: pensativa ou inspirada, costumavam perguntar.

Nota-se o silêncio quebrado pelo chilreio dos pássaros. Esvoaçam borboletas. 40 graus. Centígrados.

Solta-se um perfume quente do corpo quieto.

Embala-se nas memórias e sonha com os desejos que pretende realizar. Deixou o caderno em casa. Está ali para estudar a sério. Nada de melancolias. Nem de libertação em palavras.

Transpira ternura, apesar duma aragem que se levantou. Fresca e repentina. A ternura.

A aragem passa, breve e com o sorriso que a caracteriza, resolve viver.
Intensamente.
Com as mãos dentro do peito, num arremesso de vida.

(Mesmo que por vezes a dor se instale e a deixe extenuada).

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Neste Natal/Feliz Natal a todos

Neste Natal
visto-me das cores
que enfeitam as ruas
e a tua casa.
o vermelho do amor,
o verde da esperança
o branco da amizade.

Neste Natal
quero ser as palavras
que te afagam as noites
as mãos que procuras
perdida na solidão.
A saudade com que vestes
as minhas ausências

Neste Natal
quero ser presença
amizade e ternura
um sorriso rasgado
atravessando os céus
desta lonjura.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Despida de amarras, vento.

*
Depois do amor que te agrado
Agarro-te o vento alado que me foge
Meu caminho urge liberdade
Liberto meu ser num corpo amado hoje
Esbarro quem me empurra o arado
Da vida as brumas do paraíso
Fantasia e sonetos do Camões vivo
Meu fado meu lado livre acorrentado
Sonho liberto amarras do teu abraço
Bebo o vento que estimo e amo
Meu amor livre de ir onde quero
Anda comigo meu destino amigo
Me entrego ao sol que partilho
Em raios de cheiro fiel paixão e saudade
Toco o sentido do meu-teu postigo
Me gustas te agrado em palavras gradas
*



domingo, 13 de dezembro de 2009

Eu quero que seja Natal



Hoje fui às compras!
E, Amigos,
Senti o Natal.
Eram rostos,
Apenas rostos
Mas eu via o Natal.
E no meio desta imensidão
De sonhos dispersos
Eu via o Natal.
Eu quero que seja Natal!
Preciso que seja!
E para não ter dúvidas
Cravo os olhos,
-Lá está o Pai Natal.
Não sei se é o meu
Mas que tem o mesmo aspecto,
Isso tem, vi-lhe a bondade!
E acreditem, até o Menino Jesus
Tinha uma cabana.
Dentro desta Cabana, gigante,
Sei que estou feliz!
São as luzes,
Os embrulhos,
O vermelho,
As fitas,
As crianças a rir,
As mães a sorrir,
E os pais a carregar.
É a Fé de que vou ter mais uma
Ceia de Natal.
Vou ter a minha família
Junto ao sapatinho.
Estou Feliz!
Vejo alegria
Em cada esquina
Não sei se dos outros
Ou apenas minha,
Não me interessa,
Eu sei que é Natal!
E do consumismo,
Desculpem-me,
Mas não quero saber!
Cada um que faça o seu Natal,
E dentro desta esperança
Eu continuo às compras,
Sonhando com a alegria,
De quem vai receber a minha
Prenda de Natal.

José Luís Lopes

Requiem


Regressa a casa . A fadiga é insuportável. Redes sem elasticidade nas penas cansadas.
Senta-se ao piano e solta a voz. Num grito de desespero.


É o piano desafinado, numa melodia incontrolável.

Sabor a morango, do qual só aprecia o aroma. Cerejas no vermelho dos lábios a disfarçarem o amargo dos medicamentos.

As nêsperas são mais doces quando descascadas por mãos alheias.

Inverte-se o olhar numa caminhada singela.
Hábito de dor.

Levanta-se, abre a janela e debruça-se no parapeito numa espera de Verão. Mesmo sabendo que a Primavera não aconteceu.


O calor sufoca as nuvens dos olhares embaciados.

Mergulha no sonho e com o coração a palpitar atravessa indiferente a tarde desarrumada no peito.
Numa espera de quem não sabe aguardar.

sábado, 12 de dezembro de 2009

Um outro eu dormindo em minha cama...



peguei tudo

até aquele sorriso
que tu me deu dois anos atras
tua mão no meu corpo
os arrepios na nuca
aquele sorriso atrevido
bilhetinhos na gaveta
bobagens pela madrugada
pézinho no meio da noite
até aquele livro que tu me deu
juntei todas as palavras
coloquei num saco preto
junto com teu cheiro
tudo na mala
e tu ao lado dela
sumindo no retrovisor
talvez eu acorde na segunda
e encontre outro Eu
dormindo em minha cama


Vania Lopez

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Sucumbiu Um Alento (P/José António Antunes)


Se por um punhado de palavras
te conduzisse pelas terras governadas
pelos navegantes dos mares
elas, as terras seriam mais recatadas
quando da força dos ventos
e deixariam de ser trocadas
por uma qualquer maré negra
arremessada por um qualquer
pé de vento

Se por um acaso me esquecer de ti
à porta de um moinho ao relento
e através da força motriz
me entregar à brisa quente,
não fui que me fui
Sucumbiu um alento
*
Agradeço a inspiração num outro de José Antunes aqui:

http://www.worldartfriends.com/modules/publisher/article.php?storyid=16895&com_id=63082&com_rootid=63082&com_mode=thread&#comment63082

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Encorajamento




Procurei nos templos silenciosos
e escuros a luz que iluminariam meu olhar.
Os Deuses nem sempre me souberam
transmitir a coragem que procurava.
Agora, basta encostar meu corpo
ás colunas construídas pelas mãos doridas
de uma vida em constante reconstrução,
e saciar a minha sede
de sabedoria e conhecimento.

É nas colunas pedras erigidas ao céu
que recebo a força para enfrentar a viagem.
´
É na leveza feita generosidade
em coordenadas que transmitem
força e coragem
numa dádiva sem limites
que faço esta viagem contigo
ao mundo infinito
das palavras

Sesta


A tardinha descamba mole...
E meu corpo a balançar na rede amarela
Pelo esforço do meu pé direito
Sobre a cerâmica áspera.
Faz-se o vento que não havia.

Andorinhas cortam o ar
Com seus mergulhos desconcertantes
E vêm adentrar os vãos das telhas
Onde os filhotes iniciam grande rebuliço
E rompem ruidosa sinfonia.

Ontem não havia essa casa,
Nem essa varanda.
Não havia sequer uma sesta,
Nem essas mãos envelhecidas.
Vive o homem que não vivia.

Ontem não eram os amigos, distantes,
Nem tão ruins as notícias diárias.
Ventos eram comuns, sem balanço;
Redes...só nos ombros dos ambulantes.
Se eram amarelas...eu não sabia.


Frederico Salvo

domingo, 6 de dezembro de 2009

Private Emotions


Rebenta num pranto, depois da pesquisa dos resultados das análises, na internet.
Sempre o soube. Mesmo que a melhor amiga ( que é médica!) lhe diga que não é bem assim. Que se deixe de armar em médica.
Mas ela, sempre soube que iria ser assim.
Quantas vezes irritou a família e os amigos, com a frase: "Sei que vou morrer aos 50 anos".

Depois da explosão de lágrimas em soluços que deixaram sulcos no peito e nas mãos, é abraçada com força, pelo homem que a ama e lhe diz que não está sozinha.

Mas ela foge, isola-se. Não quer ninguém. E faz prometer segredo.
Um segredo que não sabe onde a levará.

Pensa que recentemente, a vida lhe deu uma oportunidade. A qual quer retribuir, dando o melhor de si.

Depois, baixa os braços, o corpo amolece, a alma moribunda num desistir doloroso.

Com quantas Primaveras se inventa uma vida nova?
Quantos olhares são necessários para que o sorriso permaneça?

Adormece exausta. Sem saber se quer acordar.

Amanhece com a pressa de compromissos a cumprir.
Apressa-se. São 7.30h. Vai para as aulas. Os colegas estranharam-lhe a ausência. E mimam-na.
O amigo com que viaja percebe que ela não está bem, apesar da conversa normal. Mas o sorriso perdeu algum brilho. E as olheiras...

Tenta não se isolar, como da ultima vez. Almoça em grupo. Conversa com uma amiga.
Diga o que disser, ninguém entende.
Assim, guarda o segredo.

Lamenta a explosão de lágrimas do dia anterior. Mas aliviou-a um pouco.
A voz da filha dá-lhe uma energia inexplicável. E aparentemente inesgotável.

Regressa a casa. Mantém os projectos. Não desistiu dos sonhos.
Senta-se em frente ao computador. Ouve música e liberta-se em palavras.

O maior receio é que sintam pena dela.
Assim, é a mulher alegre e optimista.
Enérgica, curiosa, aventureira.
Age como se não houvesse medo.

Mas sabe.

E com o segredo nas mãos, atravessa a inevitabilidade do momento em que sabe quando partirá.

E sorri.

sábado, 5 de dezembro de 2009

BEIJO PARTIDO


rasgo o beijo partido

com a boca vermelha
insulto tua boca
sorrindo na fotografia


Vania Lopez

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

O SÉTIMO DIA


Nada me precede.
Nada me sucederá.

Em sete dias me fiz mundo,
Em sete noites me desfiz.

A existência é um labirinto erguido.
Pedra sobre pedra.
Na soma da incerteza.
Na ímpar verdade do Arquitecto Só.

O Ser ausente é infinito esquecido.

Os caminhos são espelhos de água.
Pegadas no tempo, a destempo.

(De meu corpo nasce teu corpo.
Corpo no barro moldado,
Criado por outra mão.

Nu é o desejo revelado.
A demora do toque
É subtileza da razão).

Uno é o Dia e a Noite.
Amargo é o travo da maçã
E o remorso da serpente.

Sou réplica mimética,
Dor disforme em forma geométrica.

Os sonhos são espelho em chama.
Corredores perdidos, perversos.
Errantes versos.
Portas atravessadas para salas estranhas.
Confusas.
Alas desarrumadas em gavetas divergentes.

É esta a Epístola Profana,
Da Obra inacabada.
De mim nada restará,
Nem o que me antecedeu.

Foi no Sétimo Dia que Deus morreu

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Trilhos (P/Vânia Lopez)

(Imagem google)
*
Talhados pelas mãos do destino
ou por quem nos molda os dias
em jeito de sina
breve, muito breve
consente-se no triunfo
enquanto a noite é menina
e os dias passam desnorteados

Sem eira nem beira
acostumados a serem um só
nos trilhos pensados
ficam sós nos telhados das casas
enquanto a noite adormece no teu sorriso
*
Agradeço â Vânia Lopes pela inspiração aqui:

http://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=108699

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Entre mim e o futuro.




Entre mim e o futuro
existem pontes suspensas no tempo
que atravesso devagar
São de de madeiras preciosas
de esperança nascidas
sustentáculo deste meu longo
caminhar.


Existem abismos
que tento sempre ultrapassar
agarrando. me aos frágeis fios
da existência
sentimentos, emoções
na ânsia de me sustentar.

Existem raios de luz
que iluminam o meu caminhar
promessas de novos mundos
novos tempos
outros olhares.

Foto-Nini

Maçã de Junho


Escreve sem nexo com a tontura dos analgésicos a fazer efeito. Procura as teclas numa lentidão enervante, nem dá conta dos erros. O corpo busca descanso. A alma busca paz. Nem é chamada de atenção, é vergonha de viver depois de tanta dor.É o não saber ver para além de si própria, dos amigos que aguardam a sua chegada triunfante de uma fase menos boa. Tanta dor repetida, que apetece parar o corpo, deitar num banco de jardim ao relento, num jardim onde foi feliz na infância, Santa Catarina. Vai para lá em pensamento rebolar-se na relva, escuta as gargalhadas infantis, cristalinas, sorri aos jornalistas de "O Século", a menina das longas tranças, inocente e feliz. É a que anda de baloiço, de joelhos esfolados, que salta à corda, que brinca às cinco pedrinhas. De bata branca, espera a mãe, que nunca mais chega. Sou eu...Em memórias do início do fim.