terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Lapónia, onde o Natal acontece.

Orna-te de salubres e exíguos sorrisos
e serás a melhor árvore de Natal


Votos de um Santo Natal
Rosa Magalhães

sábado, 10 de dezembro de 2011

Minha voz não dorme mais nem os poetas...



andas por meus olhos
pelos pulsos rasgados
pelas horas que choram
embriagando meu peito de abismos

falo, com a voz que morre
(a alma em carne viva)
vá, seca a fonte de todas as perseguições
espreme profundamente tua melodia
até calar tua voz dentro de mim

porque se vivo sem essa saudade
(que é maior que a vida)
quero afogar-me para sempre
(do que morre) na realidade dos meus olhos

... minha voz não dorme mais nem os poetas
enche, pois de mundo o silencio...


Vania Lopez

quarta-feira, 29 de junho de 2011

A Dor



Há dias
que a dor
ainda é o que me leva
a esboçar alguns traços da minha pele

Serôdios momentos
nesta paisagem agreste
acostumada a receber todas as fluentes
que enchem as margens de um rio qualquer

sábado, 4 de junho de 2011

"Eulefante"


Que diferença há tão gritante
Entre mim e o imenso elefante
A não ser as enormes orelhas,
E o paquiderme não ter sobrancelhas?
Talvez por não ter pés redondos
Ou por não temer camundongos,
A ele, enfim, não me assemelhe.
Ou a silhueta não se espelhe.
Mas sinto que há comumente
Entre mim e esse ser diferente,
Algo único de rara beleza:
A essência da mãe natureza.


Frederico Salvo

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Vou

(Urzes - Moção - Castro Daire)





Encontrei por acaso
Num jardim
Onde sempre vou
Uma flor que me falou
De mansinho
- Vem cá (diz ela)
- Vem cá!

Eu nem sei
Para onde vou
Não sei nada dela
E ela nem de mim saberá
Mas eu irei
Como sempre
Vou!

Os meus passos são lentos
Tão lentos
Como as marcas do tempo
Em que me baixava
Para lhe dizer
- Vou agora por aí

Não sei se fui eu
Que me evadi dela
Ou se ela me disse um dia
- Vai por aí!
- Mas não digas adeus
- Vem cá (diz ela)
- Vem cá

Quero dar-me mais
Mas não tenho


Sequer o jeito
E nem os modos
Que me diferenciem
Do resto do mundo
Só sei que quero ir



- Vou agora por aí

domingo, 10 de abril de 2011

Na luz dos olhos teus


Eu vi a vida na luz dos olhos teus.
O chão...
A árvore...
O porto da lágrima incontida.
O barco...
O aceno. Ele me pareceu estático.
Definitivo.
O globo onde tudo parasse
A fazer sentido.
Seus olhos eram como mãos a me tocarem,
Braços a abraçarem,
Boca a me beijar a boca.
Neles havia a mulher e a menina,
A velha e a moça,
O ocaso e o meio-dia.
Eu continuaria a olha-los pela vida toda
Sem sentir sede nem fome,
Frio ou sono.
Fecho meus olhos e continuo a vê-los
A iluminarem o avesso
De tudo aquilo que não possuo.


Frederico Salvo

domingo, 20 de março de 2011

chão de lantejoulas



te arranhei com as palavras

as que guardei

as horas foram sumindo

nas asas de uma música lenta



sentados no silencio de nós

uma caipirinha estendida no copo

a alma ansiando por um jardim

que comporta se teu perfume

o salto doía

tropeçando no teu nome




espalhei os lábios

na mesma palavra

queria usar o deslumbramento

dos seus quadris pintados

em confissões de corredor



queria te guardar

como sorriso no retrovisor

como vermelho no meio de tudo

queria me cobrir com sua pele

(te deixando sem corpo)



foi maior que o salão

foi mais que um cigarro

molhei as pedras lisas

com água florida

para rever as borboletas

que inconscientemente descansam

entre seu peito e cintura

entre o perdido e o que virá



(descansar as mulheres em mim assoviando)




Vania Lopez

terça-feira, 15 de março de 2011

Cenas das portas



meu bem saiu

o barulho dos passos

corre nas pessoas

(no corpo e na cabeça)



deixo aqui um bilhete e uma planta

que rego desde que te conheci

e um chá quente esperando por você

vou manter a poesia acesa

e o portão cerrado

nessa saudade interminável



vou me refugiar no batom

calar teu nome

na porta da frente



não vou te amar

do jeito que quer que eu te ame

(vou estar com frio... pegando fogo)

 
Vania Lopez

quarta-feira, 9 de março de 2011

Não há que se dizer mais nada


O fogo que há em ti
É o mesmo que me queima.
Em mim pode agitar a alma
E atormentar os pensamentos
Em ti pode ser apenas
Uma branda chama apática.
Pode ser que em ti
Não consiga aquecer a melancolia
E nem iluminar-te os olhos,
E em mim seja calor eufórico
A brasa da minha língua,
Mas será sempre o mesmo fogo.
O mesmo que na natureza
Vai adubar a terra
Onde então a semente
Estabelecerá sua morada.

A terra que há em ti
É também a mesma que me firma.
Em mim pode ser ressequida
E devorar qualquer umidade.
Em ti pode ser fecunda
Casa de todo verde.
Pode ser que em ti
Seja estrada que encaminhe
E te encha de viço os lábios,
E em mim seja apenas deserto
A sede na minha boca,
Mas será sempre a mesma terra.
A mesma que na natureza
Vai abrigar a pedra
Onde a água cristalina
Brotará como encantada.

A pedra que há em ti
É a mesma em que me assento.
Em mim pode ser início
A base da fortaleza.
Em ti pode ser estorvo,
Lápide indesejada.
Pode ser que em ti
Seja peso sobre os ombros
Ou lhe feche as narinas,
E em mim seja solo seguro
Onde não se conhece a tristeza.
Mas será sempre a mesma pedra.
A mesma que na natureza
No âmago da sua dureza
É berço de toda água.

A água que há em ti
É a mesma que me sacia.
Em mim pode ser escassa
A fonte de todo medo.
Em ti pode ser que farte
Dádiva pura e sagrada.
Pode ser que em ti
Seja rio caudaloso
Ou mar de completa abundância,
E em mim seja ínfima gota
Inexpressiva em meu deserto.
Mas será sempre a mesma água.
A mesma que na natureza
Vai hidratar a semente
Da árvore tão esperada.

A árvore que há em mim
É a mesma que em ti aflora.
Em mim pode ser frondosa
Sombra ao meio-dia.
Em ti pode ser esquálida,
Frágil, mero caniço.
Pode ser que em ti
Seja baixa e retorcida
Ou cacto de pura ira
E em mim seja forte e frutífera
Esteio da minha rede.
Mas será sempre a mesma árvore.
A mesma que na natureza
É mais suscetível ao fogo
Quanto mais é ressecada.

E agora, se me permite,
Não há que se dizer mais nada.
Basta só entender que a vida,
Em nuances repartida,
Nunca foi fragmentada.



Frederico Salvo

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

a alma de seu olhar




eu carrego meu nome

meu chapéu

meus pés... prestes a chegar na areia

o guarda sol sorri para o vento

e tudo que eu queria

era virar sol desse dia

ver o mar vagar nos olhos de Raquel

(que não tem fim)



abrir as trincheiras

e deixar a água correr

(margeada pela saudade...)


Vania Lopez

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Cortado ao sol




o batom ficou parado na boca

despi-o com um beijo

me livrei dos sapatos sem tirar à meia

metade presa dentro do vestido



a terra parada

o copo curto

você tão... vasto

o peito encolhendo

(feito colher de chá)



quando a porta se fecha

a realidade cai

(solidez se transforma em lama)



me arrumo na foto

desvio dos sentimentos

como chuva brilhando no asfaltoe

(encolhida olhando o nada)



Vania Lopez

domingo, 2 de janeiro de 2011

os pensamentos todos, transformados



almas enfeitadas

amor disparado

mais rápido que a lua

o poeta tem pressa...

vive na confusão sonora dos corações



brilham com a vida

fazem embaixadinhas com o papel

preenchem continuamente outro corpo

pulam ardendo num copo d’água



poetas participam por escrito

passam por cercas finas

trazem a lua para dentro da sala

engravidados pela palavra

deixam a terra toda encharcada

(um anjo entra no papel)



um poeta nunca brilha em caminhos fáceis

conversam por uma brecha do papel

dormem junto à poesia sem temê-la...



negue se for capaz...





Vania Lopez