quinta-feira, 25 de novembro de 2010

faca de casa


é de pó

de terra que desmorona
o sangue é mais grosso que água

já disseram que é ilusão
mas quando o espírito tem vontade
a mão vale por dez

o papel precisa de algo para acreditar
é sua maneira de se sentir vivo
às vezes encontra seu destino
na mesma linha que lutou para sair

não se guarda
não sossega os ânimos
não desaparece
não se contraria

o tempo não devolve o relógio
ouvir música através das paredes
não conforta

os peixes nadam todos os dias
minha profissão não é igual de todo mundo

mais coisas passando pelo céu
palavra por todo lado
e nenhuma salva de fugir
de tão cansado

(cansaço de sentir sua falta poesia...)



Vania Lopez

domingo, 21 de novembro de 2010

FUGAZ


FUGAZ

Exíguo, lhe disse alguém, reflectindo sobre o tempo

e algum desdém…


Mas lá foi crescendo, crescendo, consoante a terra, o húmus e as circunstâncias,
aquele tronco, agora forte, robusto como a mãe…

“Sou como o espaço, o horizonte, o mundo…” rejubilou.


E foi rodando, rodando, rodando sempre, na esperança que antevia, até que
subitamente se deteve junto a um amontoado de ramos frágeis, inertes, prostrados.


Aí, caindo de vez em si, decepcionado, humildemente balbuciou:

“Afinal… não passo de um segundo”



arfemo
arlindo mota

sábado, 20 de novembro de 2010

contra o céu


é muito possível que o segredo


do seu feitiço

consista na cor que se olhe

na mesma distancia

entre a realidade e a promessa

a música se enche de esperança

como ortolanas

em pleno vôo para África

faz o céu parecer menor do que nunca

e o amor imenso

num jeito desprotegido

preso do lado de fora

...de um abraço



Vania Lopez


sexta-feira, 19 de novembro de 2010

TEMPO-AMPULHETA









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Cedo cedi ao mundo as madrugadas
E à noite me entreguei em sombra.
Do mundo queria todos os sonhos
E todos se perderam.
Cinza na ruína dos dias


E assim, que fazer de mim?


Apavora-me
O ruído das fontes
O marulhar das horas
O gotejar do tempo
Passando impassível
Sem me olhar
Sem escutar meu grito
Sem tocar meu choro


E assim, que fazer de mim?


A idade decompõe-se.
 Fracções.
Instantes.
A memória multiplica os dias.
Lugar semi-breve
Marcado em mim.
O espaço-tempo converge e colapsa.
Sufoca-me
O Espaço.
Excede-me
O tempo.
Não sou mais
que um
ponto

.
.
S
                    O
                                          N
                  H
O
.
.
.

Como areia escorrem letras,
Estilhaços.
Versos de vidro e de aço.
Instável
O solo que sustem os dias.
Volátil
O chão que suporta os passos.
Este tempo que me torna
Palavra de pedra
Ânfora quebrada
Desalinhado linho.

Estremeço.
Como se fosse tempo
Recém-chegado,
Como se fosse dor
Recém-nascida
Em permanentes águas.

Bago de uva sem rosa
Meu corpo-urze.
Aro de fogo circular
Cingindo meu redundante pensar.

E assim, que fazer de mim?



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segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Perguntou-me se o podia postar no seu blogue

Joan Miró i Ferrà escultor e pintor surrealista catalão

- Fiz um comentário a uma amiga, a Vânia perguntou-me se o podia postar no seu blogue.



claro que sim!
mas tenho que dar um arranjo,
passar um creme de limpeza,
depois,
deito uma base
dou a tonalidade de todos os sorrisos do mundo
e para terminar
um leve toque de pintura*
de seguida
pode partir à conquista de amizades,
pode até ser estrela,
basta que todos os olhos
saibam fazer acontecer um sonho,
uma esperança,
um novo dia,
um novo olhar,
numa noite de solidão.
é aqui,
nas noites escuras
que o seu brilho é mais notado.
é aqui,
que ela descobre que não está nunca sozinha.
tem o teu olhar.

basta o teu olhar.


* Título de uma música do Rui Veloso – Saiu para a rua


José Luís Lopes

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Por quanto tempo

O que temos ainda para caminhar, por quanto tempo, por quantos quartos escuros teremos que andar a vasculhar o que está mesmo ali..mesmo aqui, mesmo aí...

Que fazer de um olhar aberto para o medo, para a constatação diária de um farol perdido no mar...?




http://www.youtube.com/watch?v=677los63W5k&feature=player_embedded