sexta-feira, 19 de novembro de 2010

TEMPO-AMPULHETA









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Cedo cedi ao mundo as madrugadas
E à noite me entreguei em sombra.
Do mundo queria todos os sonhos
E todos se perderam.
Cinza na ruína dos dias


E assim, que fazer de mim?


Apavora-me
O ruído das fontes
O marulhar das horas
O gotejar do tempo
Passando impassível
Sem me olhar
Sem escutar meu grito
Sem tocar meu choro


E assim, que fazer de mim?


A idade decompõe-se.
 Fracções.
Instantes.
A memória multiplica os dias.
Lugar semi-breve
Marcado em mim.
O espaço-tempo converge e colapsa.
Sufoca-me
O Espaço.
Excede-me
O tempo.
Não sou mais
que um
ponto

.
.
S
                    O
                                          N
                  H
O
.
.
.

Como areia escorrem letras,
Estilhaços.
Versos de vidro e de aço.
Instável
O solo que sustem os dias.
Volátil
O chão que suporta os passos.
Este tempo que me torna
Palavra de pedra
Ânfora quebrada
Desalinhado linho.

Estremeço.
Como se fosse tempo
Recém-chegado,
Como se fosse dor
Recém-nascida
Em permanentes águas.

Bago de uva sem rosa
Meu corpo-urze.
Aro de fogo circular
Cingindo meu redundante pensar.

E assim, que fazer de mim?



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2 comentários:

  1. magífico o poema, rico em imagens e sentido!
    ab. arlindo m.

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  2. Já o tinha lido e gostei de o ver aqui. Tu és um amigo, mas mais do que isso, um Poeta onde a verdade assume uma certa magnificiência, e as palavras são as hastes aglomerando-lhe todos os sentidos.

    beijo

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