o ligeiro ondular da flor vermelha
era um canto insistente
na coluna do vestido
como uma chama no fio da seda
brincando de ser vento na pele
queimando, balbuciando
talvez mudança de inverno para verão
estampa no espelho
o sussurro do babado
admirava o vestido
e conseguia lembrar do corpo nele
(um corpo direto na boca do vestido vazio)
o cheiro sempre presente do tecido
fazia ficar assim por dentro
como flor vermelha...
Vania Lopez
segunda-feira, 30 de agosto de 2010
quinta-feira, 26 de agosto de 2010
TEU CORPO AVE CINZENTA
teu corpo ave cinzenta simulou um voo
ao encontro dos deuses, mundo dos ses,
em movimento pendular: ser e não ser,
cintilando ao retornar pela última vez
o corpo brotou manancial de água fresca
sobre suave tapete de plátanos em flor
sem cuidar de saber se ao partir voltaria:
eclipse ou expressão circular da geometria
o corpo ave cinzenta aninhou uma última vez
no meu colo,e ali ficou, delicada,serena forma,
depois despertou tão naturalmente naquele dia,
que deixou a ilusão de ser eterno – e não seria?
arfemoarlindo mota
segunda-feira, 16 de agosto de 2010
o primeiro dia um
de manhã olha o espelho
que lhe devolve o olhar
com respiração ofegante
segura o pincel sem mudar um centímetro
controla a chuva
recorda o dia depois de ontem
seus desejos colhidos pela manhã
na mistura inicial do sol
enquanto ouve o vento
põe uma palavra que adoça a boca
e lembra dos quadris de Elvis Presley
no meio de tudo
um amor sem etiqueta
sem sangue, dor ou tremor
continua pela casa
dentro do álbum de família
(um olhar e uma fome)
em algum momento da noite
por algum motivo
como se não combinasse com o lugar
ou fosse caminhar onde havia sol
o amor se levanta e vai embora
inteiramente vestido
de sapato e casaco
ela começa uma conversa por escrito
onde tranquila possa enraivecer
onde possa sonhar errado
a solidão entra sem bater
olha ao redor, suspira
percorre o mesmo caminho até a cama
e se cobre da cabeça aos pés
(sem sequer tocá-la)
no deserto da cama
vendo o fogo gelado arder
ela é a flor
(o medo a mantém viva)
Vania Lopez
que lhe devolve o olhar
com respiração ofegante
segura o pincel sem mudar um centímetro
controla a chuva
recorda o dia depois de ontem
seus desejos colhidos pela manhã
na mistura inicial do sol
enquanto ouve o vento
põe uma palavra que adoça a boca
e lembra dos quadris de Elvis Presley
no meio de tudo
um amor sem etiqueta
sem sangue, dor ou tremor
continua pela casa
dentro do álbum de família
(um olhar e uma fome)
em algum momento da noite
por algum motivo
como se não combinasse com o lugar
ou fosse caminhar onde havia sol
o amor se levanta e vai embora
inteiramente vestido
de sapato e casaco
ela começa uma conversa por escrito
onde tranquila possa enraivecer
onde possa sonhar errado
a solidão entra sem bater
olha ao redor, suspira
percorre o mesmo caminho até a cama
e se cobre da cabeça aos pés
(sem sequer tocá-la)
no deserto da cama
vendo o fogo gelado arder
ela é a flor
(o medo a mantém viva)
Vania Lopez
domingo, 15 de agosto de 2010
Tormento

Onde estarão as cores do mundo,
Que outrora enfeitaram meus dias
E celebraram comigo a alegria?
Onde estarão as bocas que cantavam libertas
Os cantos de imaturas letras,
Mas de incomparáveis força e sentido?
Meu Deus!
Onde estarão a pureza dos meus gestos
E a receptividade crédula aos gestos alheios?
Onde andará a inocência
Que procurava em tudo o verdadeiro sentido
E que se ressentia por não ser ainda mais cristalina?
Tudo deu lugar a este tormento
Onde cores são cores apenas;
Bocas cantam rotineiramente
Cantos de letras maduras e repetitivas;
Gestos são sempre comedidos, objetivos;
E a inocência vem apenas esporadicamente
Passear, tímida,
Sobre as frases dos meus versos.
Frederico Salvo
segunda-feira, 9 de agosto de 2010
Dois Pontos
Quis encontrar-me num ponto
Onde teu corpo descansava
E a tua alma me esperava
Mas sinto que me fui
Enquanto dormias
Foi um momento isolado
Quando as ideias
Te afogavam a mente
E o pensamento
Te domava o espírito
Já não me encontro por aqui
Saí deste ermo em tons de azul
E fui-me ao encontro do brilho
Que reluz no centro da esmeralda
Que me roubou o último suspiro
A alma é o meu ponto selado
No meu olhar obscuro
A vasculhar-me por dentro
E a deformar-me por fora
Enquanto espera
O meu corpo caiu no vazio
O teu inteirou-se do meu
Nesta corrente que me engole
Enquanto o meu rio abarca
A nova união de dois pontos
quinta-feira, 5 de agosto de 2010
Absorto
E que venha a saudade!
Que me arrase de vez!
Enquanto tiver sentido
Enquanto for absorto
De mim esse teu ar solto
Discerne como germe
Que corrói por dentro
A sagacidade da aurora
Calada a cada hora, sonolenta
A noite vai quente, está quente
E tu meu amor, tardio
Não afogueies o persistente
Como quem flama pela gente
Enquanto o repouso surge
Ao som de um lamento
Que me arrase de vez!
Enquanto tiver sentido
Enquanto for absorto
De mim esse teu ar solto
Discerne como germe
Que corrói por dentro
A sagacidade da aurora
Calada a cada hora, sonolenta
A noite vai quente, está quente
E tu meu amor, tardio
Não afogueies o persistente
Como quem flama pela gente
Enquanto o repouso surge
Ao som de um lamento
hoje
Nos cabelos
a água salgada da nostalgia
No olhar o horizonte
cor do fogo
Nas mãos
o vento que foge levemente
logrando dedos
No rosto a tranquilidade
serena maresia
Nos pés um imenso
oceano azul suculento
No corpo a leveza flutuante
do ar fresco
No peito
este amor que arde
sem saber onde
a água salgada da nostalgia
No olhar o horizonte
cor do fogo
Nas mãos
o vento que foge levemente
logrando dedos
No rosto a tranquilidade
serena maresia
Nos pés um imenso
oceano azul suculento
No corpo a leveza flutuante
do ar fresco
No peito
este amor que arde
sem saber onde
Subscrever:
Comentários (Atom)

