quinta-feira, 7 de janeiro de 2010
O Grito
Dizem por aí
Que se diz muito em poucas palavras
Às vezes acredito
Penso que sou poeta
Iludo-me
E quero acreditar
Que sou fenomenal
Único
E mesmo sem falar
Basta-me um gesto
Para ser um génio do amor
Translúcido
Penso eu.
Então digo-me:
É verdade
Não escrevas
Não fales
Sorri apenas
Alguém acreditará que és especial.
Mas depois
Já nu
De tanto meditar
Escolho um mundo:
Redondo
Azul
Com mares
Com alma, sol e sal
Cheio de gente como eu
Aqueles que são poetas só às vezes
Esfrego os olhos
E vejo
Lá no fundo
Onde a luz é escassa
E as sombras são vida
O choro
Esse…
Que nunca se ouve
É onde os poetas de verdade se tornam homens
Onde nascem as dores
As desilusões
As emoções
As perdas
As saudades
As pessoas perdidas
Os tempos passados
Ou mesmo um grande esforço
Para se ser aquilo que nunca se será
E aí…
Sinto a falta das palavras.
Revejo os sons
Do que poderiam ser palavras faladas
Mas afinal são vaidades
De apenas terem tempo
Para o ego
Descubro então
Que afinal
Os poetas nada dizem
Eles
Dizem que dizem
Porque escrevem
Mas não transpiram
Não ofegam
Não sorriem
Não tocam
Não negam
Não gemem
Não olham
São papel…
Mas eu
Homem deste mundo
Redondo
Azul
Com mares
Com alma, sol e sal
Cheio de gente como eu
Esgotado para todos estes poetas
Digo-lhes:
Digam-me na cara
Nos olhos
Nesta alma que chora
Nesta vida que também é vossa
Digam-me
Apenas mais que uma palavra
Mesmo que seja
Gosto de ti
Mas não
Não…
Desculpem
Não chega
Eu quero mais
Quero que falem
De vocês
De mim
Do vizinho
Do irmão
Do vosso amigo
Do meu amigo
Do mundo
Do vosso mundo
Quero-vos sentados
Quero-vos ao meu lado
Quero esse vosso olhar
Mesmo feio
Ou bonito
Não interessa
Só quero que não escrevam
Quero que falem
Não se calem
Falem
Sejam poetas de verdade
josé luís lopes
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