domingo, 31 de outubro de 2010

Por aqui há chuva...


Por aqui, há uma chuva que cai e vai alagando os caminhos... agora mais forte, sim, mas mais fortes são os laços que nos unem e as palavras que nos conduzem por muitos outros caminhos já em construção.

Gosto desta sensação de me encontrar entre um beiral e outro, e nos intervalos, deixar escorrer uma gota pela minha face, molhar as pontas dos dedos e riscar nas paredes um nome - Poesia
Dedicado à Saozinha pela apresentação do se livro "Longos São os Caminhos", ontem dia 30/10/10 em Libsoa

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Vida simples

Imagem de Veselin Stefanov Kenchev



Uma descoberta.

Uma lágrima encoberta.


Uma desilusão


Um amor proibido.


Solta a paixão.


Coração alerta.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Sempre que há um princípio

( Tela de Paula Rego)



acordei uma tarde dominical
para que me dissesse
onde moram todos os dias
que me vestiram
pelas mãos angelicais
de uma Primavera
que já se foi…

corre agora pelos campos
amansando
as folhas secas
desactivadas pelo Outono

as árvores sentam-se
num trono bordado a ouro
que se encolhe sempre
que há o princípio
de uma nova noite

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Línguas


“Uma pessoa ocupada em servir nunca dispõe de tempo para comentar injúria ou ingratidão”.


Enquanto línguas cortantes, ferinas,
Só dão notícias das vidas alheias.
Enquanto arestas, farpas pequeninas
Se enroscam em ardilosas teias,
Outras entoam constantes, divinas,
Em outros pontos, em outras aldeias
A poesia de sensatas rimas,
A melodia de maviosas colcheias.
E nessa arte, desprendidas servem,
Enquanto as lavas desse mundo fervem
Num vulcanismo de intensa fúria.
São como botes contra a correnteza
Desafiando a humana natureza,
Num oceano de ingratidão e injúria.


Frederico Salvo

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Nudez

(nudez azul -Pablo Picasso)


Se os fantasmas do passado me vissem nua
Que diriam da minha clara nudez
Da minha sandice total
Que me prende no interior de um postigo aberto?

Que seria de mim
Sem esses dogmas instituídos na minha pele?
Como veriam o meu estado excomungado
Pelo que resta dos imortais?

Interpelo-os na sua sanidade mental
E quero muito saber
Por onde anda o meu corpo nu
Incendiado pelas suas mãos ainda quentes
Os seus corpos ainda opulentos
Se eu já nada sei de mim
Desde que me despi para eles

Quero-os com todas as roupagens
Que os diferencia da morte
E nada os trai
Porque o seu nada
É só um episódio da vida real
Tão real como o sonho
Que me traz sempre à noite
A órbita de um corpo celeste