quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Intensamente



Detesta camisas. Mas estas que usa sobre os tops, semi-transparentes dão-lhe uma elegância invulgar, a elegância interior que transparece quando fixa o firmamento, mesmo em dias de Sol escaldante.

O banco de jardim está só para ela, como o Verão está para um dia de praia. Senta-se à sombra do salgueiro, onde tantas vezes sonhou, confidenciou, namorou...

Passam vinte e cinco anos e reconhece os aromas, as cores, as sombras mais intensas pela densidade das folhas.

Descalça um pé, depois o outro, sente-se menina endiabrada, abraça as pernas recolhidas para cima do banco e pousa a cara nos joelhos. Atitude infantil, quase provocadora numa idade para ter juízo. Os colegas metem-se com ela. Acham-na demasiado calada, a ela que alcunhavam de tagarela. Por outro lado, sempre teve destes momentos: pensativa ou inspirada, costumavam perguntar.

Nota-se o silêncio quebrado pelo chilreio dos pássaros. Esvoaçam borboletas. 40 graus. Centígrados.

Solta-se um perfume quente do corpo quieto.

Embala-se nas memórias e sonha com os desejos que pretende realizar. Deixou o caderno em casa. Está ali para estudar a sério. Nada de melancolias. Nem de libertação em palavras.

Transpira ternura, apesar duma aragem que se levantou. Fresca e repentina. A ternura.

A aragem passa, breve e com o sorriso que a caracteriza, resolve viver.
Intensamente.
Com as mãos dentro do peito, num arremesso de vida.

(Mesmo que por vezes a dor se instale e a deixe extenuada).

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