[imagem do site olhares)
Nasceram tímidas
em sulcos inconfessos do viver,
escravas dos dias possantes,
calvas de terror místico
ou húmidas de submissas,
carne que o macho fecunda
por capricho de a querer cativa.
Foram inatas germinadoras
de reprodutores carnais,
tão longínquas
que nem sentiam o júbilo prazer
subir nos ossos dos seus entalhes,
apontados sem remorsos
na obrigação de criar os seus.
Anos passaram.
Séculos de desejo oprimido,
cultos de mãe
em templos de razão.
Fêmea de um só mercador
que a embriaguez sovava e vendia,
ao preço de uma discussão
sem diálogo,
por um pouco de pão e dor.
Cresceram revoltas,
motins de vergonha, pesadelos
conquistaram um vazio
que sempre foi seu,
mas que a voz máscula
confinou ao fracasso.
Tornaram-se ousadas
como os homens ousados foram,
disseram ao mundo
o sentido condigno do querer
tão visível
que os carrascos lhes foram
comer à mão.
Quiseram ser grandes
e foram enormes.
Tiveram medos
mas foram audazes,
lutaram amarguras,
decidiram momentos de decisão,
e amaram os homens
com gemidos de intimidade
que eles jamais haviam amado.
Criaram seus filhos
com o mesmo ensinamento
de suas mães,
gritaram trabalho
e num rasgo de independência
quiseram ser livres
e foram a liberdade,
a boca reivindicando igualdade.
Foram a evidência
das suas vontades,
nos lábios dos severos justos.
… Numa admiração às suas vitórias
tão duramente esboçadas
quão difíceis de encetar gloriosas,
a vingança tardia,
de quantas inúmeras mulheres,
por elas foram lápides
antes da morte!
Fossem os homens justos
e nenhuma mulher
seria a ausência…
… como foi possível
tantos anos, tanto egoísmo
se homem e mulher
são diagonais da mesma ossada,
que se interceptam
em qualquer ponto
de uma recta algures,
onde a vida
completa a vida!
José António Antunes
Nasceram tímidas
em sulcos inconfessos do viver,
escravas dos dias possantes,
calvas de terror místico
ou húmidas de submissas,
carne que o macho fecunda
por capricho de a querer cativa.
Foram inatas germinadoras
de reprodutores carnais,
tão longínquas
que nem sentiam o júbilo prazer
subir nos ossos dos seus entalhes,
apontados sem remorsos
na obrigação de criar os seus.
Anos passaram.
Séculos de desejo oprimido,
cultos de mãe
em templos de razão.
Fêmea de um só mercador
que a embriaguez sovava e vendia,
ao preço de uma discussão
sem diálogo,
por um pouco de pão e dor.
Cresceram revoltas,
motins de vergonha, pesadelos
conquistaram um vazio
que sempre foi seu,
mas que a voz máscula
confinou ao fracasso.
Tornaram-se ousadas
como os homens ousados foram,
disseram ao mundo
o sentido condigno do querer
tão visível
que os carrascos lhes foram
comer à mão.
Quiseram ser grandes
e foram enormes.
Tiveram medos
mas foram audazes,
lutaram amarguras,
decidiram momentos de decisão,
e amaram os homens
com gemidos de intimidade
que eles jamais haviam amado.
Criaram seus filhos
com o mesmo ensinamento
de suas mães,
gritaram trabalho
e num rasgo de independência
quiseram ser livres
e foram a liberdade,
a boca reivindicando igualdade.
Foram a evidência
das suas vontades,
nos lábios dos severos justos.
… Numa admiração às suas vitórias
tão duramente esboçadas
quão difíceis de encetar gloriosas,
a vingança tardia,
de quantas inúmeras mulheres,
por elas foram lápides
antes da morte!
Fossem os homens justos
e nenhuma mulher
seria a ausência…
… como foi possível
tantos anos, tanto egoísmo
se homem e mulher
são diagonais da mesma ossada,
que se interceptam
em qualquer ponto
de uma recta algures,
onde a vida
completa a vida!
José António Antunes
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