segunda-feira, 30 de novembro de 2009

6º Sentido

O homem tocou a terra
Agarrou-a com suas mãos e
Desfê-la entre os dedos

Foi ínfimo grão
Torrão,
Terno
Tenaz
Testemunhou o Sol

Com o respeito que se há-de dar
Aquela que um dia será mãe

A taipa, ergue-se estátua
Urgente, fecunda
Ao homem
E desperta um novo sentido

Sentir que ainda não é o céu

Alice no país das aparências


Por mais que o tempo passe eu me recuso
A dar por finda a alma de menino,
Porque se faço assim me tenho excluso
E sendo só adulto me confino

No rol da pequenez e da mesmice
Que abunda nesta terra tão tacanha;
Melhor viver assim como Alice
Do que me aventurar nesta façanha

De dar à vida, assim, um tom tão sóbrio
Ou boicotar-me à sombra do status
Por ter que digerir incoerências.

Prefiro ser menino a ser tão óbvio;
Viver se repetindo aos mesmos fatos,
Bailando no país das aparências.


Frederico Salvo

Putrefacção

…nas palavras
silenciosas
sofro
(…)
putrefaço-me
e do cheiro pestilento
o corpo reclama
mais dor
por não as declamar
(covarde digo eu)

Fascinação

Foto de Robert Mapplethorpe


Recordo
a (con)fusão dos corpos
em inúmeras essências
pele de seda
(que não pode ser de lobo)
o restaurante de peixe em Milão
o passeio de Alcântara
e
as ruas de Praga
em que a tua mão
era
o saber do meu corpo tatuado no teu
em molde de areia
húmida
a excitação no sabor
a sexo
em aromas
(de chá)
tanto quanto os idiomas
(de línguas)
t(r)ocadas
as fotografias
dos dias
em anúncios de desespero
ou humor.

Sinto
o teu corpo no deserto
(que sou eu)
onde se apagam fogos de olhar
em frente
à noite que chega
o luar
é o reflexo apagado do espelho
por mirar
meu amor sem nome
quantas palavras
escondes
em lugares secretos
abertos
à imaginação sem pudor.

Assim a memória de nós
num beijo
iventa(n)do
a tarde nas noites que jamais teremos
em que
sem sabermos,
trocámos as almas
nos corpos nus
e tu és eu
e
eu sou tu.

Será que os outros darão pela diferença?

domingo, 29 de novembro de 2009

OS AFECTOS


Os afectos, disseste, são como as flores,

rosas, gladíolos ou simples urzes:

Brotam, desabrocham ou apenas definham,

como uma acidental conversa ao fim de tarde,

aspirando a brisa que sopra de mansinho.


Na monda dos afectos, é fugaz, Cibele,

a botânica gentil dos sentimentos.



arlindo mota

foto e poema

Para vós, mulheres

[imagem do site olhares)

Nasceram tímidas
em sulcos inconfessos do viver,
escravas dos dias possantes,
calvas de terror místico
ou húmidas de submissas,
carne que o macho fecunda
por capricho de a querer cativa.

Foram inatas germinadoras
de reprodutores carnais,
tão longínquas
que nem sentiam o júbilo prazer
subir nos ossos dos seus entalhes,
apontados sem remorsos
na obrigação de criar os seus.

Anos passaram.
Séculos de desejo oprimido,
cultos de mãe
em templos de razão.
Fêmea de um só mercador
que a embriaguez sovava e vendia,
ao preço de uma discussão
sem diálogo,
por um pouco de pão e dor.

Cresceram revoltas,
motins de vergonha, pesadelos
conquistaram um vazio
que sempre foi seu,
mas que a voz máscula
confinou ao fracasso.
Tornaram-se ousadas
como os homens ousados foram,
disseram ao mundo
o sentido condigno do querer
tão visível
que os carrascos lhes foram
comer à mão.

Quiseram ser grandes
e foram enormes.
Tiveram medos
mas foram audazes,
lutaram amarguras,
decidiram momentos de decisão,
e amaram os homens
com gemidos de intimidade
que eles jamais haviam amado.

Criaram seus filhos
com o mesmo ensinamento
de suas mães,
gritaram trabalho
e num rasgo de independência
quiseram ser livres
e foram a liberdade,
a boca reivindicando igualdade.
Foram a evidência
das suas vontades,
nos lábios dos severos justos.

… Numa admiração às suas vitórias
tão duramente esboçadas
quão difíceis de encetar gloriosas,
a vingança tardia,
de quantas inúmeras mulheres,
por elas foram lápides
antes da morte!
Fossem os homens justos
e nenhuma mulher
seria a ausência…

… como foi possível
tantos anos, tanto egoísmo
se homem e mulher
são diagonais da mesma ossada,
que se interceptam
em qualquer ponto
de uma recta algures,
onde a vida
completa a vida!

José António Antunes

sábado, 28 de novembro de 2009

Troca


Me abraçou forte
bem apertado
suave foi a troca de facadas
tão suave que o amor
demorou a fechar os olhos


Vania Lopez

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Profecias

Há nos limiares do tempo
Um pendular suspenso que balança…
E me equilibra noutra dança
Mas o meu corpo é o re-verso na ténue faísca
Onde nasce a luz uniforme do meu olhar

Caminhos intransponíveis neste renascer
Onde o verbo É
E deixa de Ser
Quando consente que nos limites
Se consiga verbalizar
Sobre o Cosmos re-unificado

- Como abrir os olhos e falar-vos sobre um cometa
Que rasgou a atmosfera neste leve balançar?

Há um estado de fidalguia nos seus versos
Simples melodias esgrimam o ar
E esta espera…
Que sempre me desespera

- Ler-te no infinito...poeta do meu altar
É re-escrever-me no mesmo lugar
De onde me viste chegar…

Leva-me sempre por outros trilhos que também pisa
E sabe que o meu corpo se espreguiça nos seus versos
Mas , mesmo assim , não pára de me fazer doer
É como sentir a terra a tremer...

- E o frio encolher-me toda neste corpo, preso á vida

Já não posso caminhar sobre o seu ventre
Vou fincar-me na extensão breve do tempo
E absorver dele a fina corrente

Insígnia das utopias de um profeta
Que marcou encontro com certas profecias
Que, sem saber se é poeta,
Por profeta ser
Remete-se para a magistral leveza do Ser
*
Agradeço ao poeta Filipe Campos Melo (Giraldoff)
pela inspiração que resultou de um comentário aqui:
http://www.worldartfriends.com/modules/publisher/article.php?storyid=15147

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

A última vez...



imagem do site olhares.com da autora Marta Ferreira


O corpo oscila
Em marcas invisíveis
Aos mais atentos olhares,
Cambaleia
Decaí
Recomeça
Na alma acende a esperança
De uma última vez…

Nas mãos bastiães
Sem dó nem piedade
Em intervalos de amor
Palavras que matam e ferem
Com lâmina afiada
Numa guilhotina
Apontada ao elo mais fraco…

Goteja
Em busca de explicação
Na lógica do perdão…
Desculpa na culpa
Sem inculpa,
Perto da paixão que um dia
Sorriu num sonho
Alongado ao futuro…

Um dia mais…
Agora é tarde
Jaz em terras frias
Num pesadelo terminado
Em braços de cobardia
Nos laços de coragem
Que não conseguiu partir…


25 Novembro - Dia Mundial para a Eliminação da Violência contra as Mulheres


Ana Coelho


Porque




O meu coração é um diospiro amadurecido pelo teu amor






Puro o ri(s)o de lágrimas doces

pranto

encanto

olhos na alma

liquidambar de sentidos...




E a minha sombra aponta sempre (n)a tua direcção.

terça-feira, 24 de novembro de 2009

PELO RESTO DO CAMINHO...


Fui tocada por uma presença, me vi voltando

estranhamente encabulada pela atmosfera que causava.
As mãos, sua maneira de ouvir, dizer,
foi criando sabores que falavam de mim, pensavam
alto.
Seu olhar queria tanto, suprimia o que em mim vagueia,
me mantinha dentro de mim o tempo todo,
causando tumulto interior. Seu sorriso e olhar
passou a ficar por dentro.
Me esquecia em seus olhos, passaste com o tempo
a criar gosto e sair, ficar ao meu lado, ora
desapercebido, ora sonoro e atrevido, sentava
perto de mim e abria a conversa em momentos
inusitados, fazia da distância uma curva do
pensamento.
A partir desse momento passei a ser chicoteada pelo destino e meus dias se tornaram tranquilos.
Agora vive ao meu lado.
Minhas mãos aprendem a tocar e mudo de lugar,
passo a sentir com a mão no peito seu toque
no meu mundo.
E o restante do tempo olho ao redor, sinto te
perder tanto pelo resto do caminho que passei
a gritar.

Vania Lopez

domingo, 22 de novembro de 2009

O Outro

Sinto um som estranho
Para lá da porta fechada
Eu não sou, estou por cá
A ti não te espero
Perdi-te já faz tempo
Será o futuro a assobiar
Ou o passado a agoniar

Na mesinha de cabeceira
Vive a moldura
Habita por lá um rapaz
Veste calções
Abato-a com um olhar
Viro-me
Aconchego-me
Arrumo um sonho
E parto
José Luís Lopes

sábado, 21 de novembro de 2009

Imperfeito


Pudesse desfazer o que foi feito.
Tivesse como ter o que não posso.
Se fosse qualidade o meu defeito
E o drama de viver não fosse nosso.
Se Cristo fosse o próximo eleito
E a perna alcançasse além do passo.
Se não houvesse tanto preconceito
E a vida afrouxasse um pouco o laço.
Seria eu o mesmo que escreve
O desconsolo num soneto breve?
Seriam assim as linhas que eu traço?
Melhor que seja mesmo desse jeito,
Pois tudo o que no mundo tenho feito
É por não ser perfeito que o faço.


Frederico Salvo

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

A queda de uma folha

Antes de morrer
As folhas
Curvam seus veios
Tornam-se aladas
Firmam formas flácidas
Fazem-se leves
E soltam-se pelo leme

Ao cair
Rodopiam
Piruetam
Dançam
Descem
Planam
Invertem movimentos
Sobem
E rodopiando
Voltam a cair…
Suaves.

Docemente
As folhas
Tocam a terra
E não morrem

Ninguém chora
Ninguém ri
Não há aplausos
Circos, acrobatas
Festas, fogo
Fado, foguetes, flores
Não é Carnaval
Não há presentes
Andarilhos
Promessas, pragas
Não se faz Poente

As folhas simplesmente
Caem, não morrendo
E tocam a terra, docemente

Sonhos Teus (Para Ana Coelho)


Serenas emoções
Doces tempos
Em que te via
A soletrar palavras
Só palavras soltas
Em poemas inacabados

Verdades tuas
Empoleiradas
Nos telhados
Sonhos teus
E um mundo
A cair-te nos braços

É como adormecer
Em fardos leves
Tecidos em fios de algodão
Tão doces nos canteiros
E nos jardins proibidos
Como um beijo teu

*
(Para a Ana Coelho pelo seu aniversário)

Liberdade



Solta-se do casulo onde permanece há dias, sem se mexer, nem falar, nem pensar. Mesmo o respirar é alternado com o pestanejar, para que as lágrimas não a engasguem.

Posição difícil, a estática para quem não consegue ficar segundos sossegada. É como uma punição, uma espécie de exercício mental e físico, como que a demonstrar a a vontade de que é feita, que tudo pode, se quiser. Quando apenas depende dela.

O mundo gira à sua volta, escuta vozes de preocupação, mas o estado amorfo faz com que finja que dorme. Tantas horas seguidas, será que acordará? Ao fim de vinte horas conseguem alimentá-la, levanta-se cambaleante, os músculos estiveram sossegados tempos demais (as tonturas são só dos analgésicos, para que nada sentisse).

Engana e engana-se! Mais uma vez preferia não ter acordado, mas que se dane, ama a vida e há-de sobreviver, ou melhor viver em pleno, o Verão que está a chegar. E as cerejas e os díospiros e o mar que a aguarda, assim o Sol, apesar de mais uma semana extenuante em hospitais e clínicas.

Mas já não receia o dia seguinte. Nem as noites solitárias em que adormece sem dormir. Aprendeu que qualquer coisa é melhor que a letargia e a alienação. Até a dor. Sentir.

Sentir a brisa do Verão, os pingos de chuva na face, os amigos que se preocupam, os mimos que nunca são demais....Sentir os amores que se multiplicam a cada olhar. Sentir o frio, o ardor, o coração nas mãos, o sorriso da filha, as gargalhas dos jovens. O choro dos bebés que não terá, mas que embalará em canções de carinho, numa voz calma e repousante.

Então, desenrosca-se da posição fetal, agarra as mãos que a puxam e levanta-se, cambaleante, mas com o destino traçado em direcção à liberdade de SER MULHER.

Para sempre.
Acelerada, a tentar recuperar o tempo perdido. E sorri!


(Há quem diga que há-de morrer à velocidade a que vive!)

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Despertar




Olha em redor, sem saber onde está. A náusea saboreada num esgar de dor.
O ventre vazio. Para sempre. Tenta cortar o cordão umbilical com os dentes, tal a revolta da traição. A ausência do amor que a preenchia.
Adormece num vómito engolido.
Ao longe "Ave Maria" de Schubert. Terá chegado ao Paraíso? É um mundo de luz, feito de azul. Veste de branco e está linda. Os cabelos cor da infância, castanho cobre, alourados pelo Sol. Levita no espaço sideral, montanhas em rios, para além do mar. A Lua Cheia no seu máximo. E é dia. A memória não dói. Não existe em pensamento, apenas numa volatilidade de almas sem corpos, em esferas líquidas de sobrenatural.
Sem olhar, percorre o caminho, sem pressa. Sem saber o destino. A viagem não deixa marcas visíveis no olhar que esconde a dor. Está quase a chegar quando se apercebe dum ambiente que reconhece.
Acorda sem saber que tinha adormecido. Acorda sem querer acordar. Desperta para a realidade num doer fora de tempo. O coração acelera, as pálpebras entreabrem-se, agita-se o corpo num choro convulsivo de lamento sem perdão.
Ensaia uns passos até à paz e num sorriso indefinido, atravessa a solidão com a esperança no olhar.

É noite de Lua Cheia.
E o amor permanece numa angústia por dissolver.

terça-feira, 17 de novembro de 2009


Sei lá...
Como vim aqui parar
foram os cheiros das palavras
tantas vezes derramado em papel
almiscar.

Branco como a cor da paz
que ternamente vez em meu
olhar
branco como a esperança
em que me visto a cada
despertar.

Foram os cheiros dos sonhos
das emoções ,de novos caminhos
a desbravar.




São linhas que se cruzam num
olhar
que se encontra na invisibilidade
do tempo.
São os laços que se enlaçam em mentes
a despertar.
São palavras que se lavram na memoria
do tempo
que veremos num futuro proximo
germinar.

Sei lá.....
se estarei à altura dos sonhos que esperas
alcançar.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

O SEGREDO DAS PALAVRAS



0 sonho, Cibele, é uma taça, uma flor ignota, um desejo imenso
que persiste, mesmo se a dor ao colhê-lo o ignore. Cativo, neste lugar,
perco a exacta noção do ser e do não ser, do tudo ou do nada,
( se é que o todo pode estar circunscrito à palavra…)

Procurarás as estrelas, que iluminarão o caminho. Se solitário, a luz é mais intensa.

Despojada de tudo, encontrarás o segredo das palavras:
ternura, amor, ou apenas sede e um sereno gesto a partilhar
na colheita de uma rosa brava.


Arlindo Mota
foto e poema

domingo, 15 de novembro de 2009

Por uma força que eu desconheço...




 
se mudas o timbre da palavra
as nuvens se retiram
ficam no colo do céu caídas no chão
se um véu te cobre
é quando o inesperado acontece
aceito o que vai me propor
e prometo o que pensaste
se vens no voo de uma andorinha
florescem galhos, fios da semente
a terra fortalece a raíz
o pensamento afofa o seu pousar
o que devo fazer
é o que me procura nesse ninho
se descansas da noite
vivendo o dia
com o mesmo entusiasmo
o sol se enche de estrelas
e te faz noite desse dia
se chegas com o vento afoito no laço
puxando a toalha do chão
arrastando calçadas
dividindo corpo e alma
razão e emoção
vou escorando minhas paredes
cantando uma canção
por uma força que desconheço
e sutilmente me reconhece
imediatamente
profundamente

Vania Lopez

sábado, 14 de novembro de 2009

Amanhã, sei lá



Eis-me diante de ti amanhã,
deslumbrado em giestas de luz,
sorrisos e afincos,
receios hirtos e verves,
emoções aos rodos
por chãos que nunca vesti.
... e se tu amanhã fosses hoje,
capciosamente sentido
como serias tu amanhã?

Tu não sabes
e eu sei lá!

José António Antunes

Poema divino


O poema divino tem palavras tantas
E, no entanto, nenhuma delas se repete.
A nenhuma, domínio sobr’outra, compete.
Nem mesmo às ditas chulas, nem às ditas santas.
O poema divino é poesia branca,
Onde rimas se dão por outras competências.
Métrica? Desafia o poder das ciências.
Ritmo? A qualquer estilo, a qualquer forma, desbanca.
No poema divino, cada ser humano
É uma palavra única, um verbo soberano
A projetar o bem e o mal que a vida canta.
E assim, por ser divino, é incompreensível;
Ao mesmo tempo é claro e é indecifrável.
Aos olhos de quem lê, escandaliza e encanta.


Frederico Salvo

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Contudo, sei lá!!


[foto do site olhares.com do autor Nobre]

Sei lá!

Que sentido
Têm as palavras
Que nascem assim
Inesperadamente
Na inspiração do momento...

Caem em cascata
Numa nuvem elevada
No ventre do vento
Transparente véu
No mais alto do céu
Renascidas na fonte
Eterna na linha da vida...

Silabas vividas
no intimo sentido
nas mãos que bebem amor...

Contudo
Sei lá!
Se é poesia...

Ana Coelho

A Vida é Opaca e o Louco Ri





Nasci cor.
Nos tons do sonho,
Um sonho profundo.
Mudar, mudar o mundo.

Queria ser Poeta, partir á descoberta.
Inventar novas letras, inverter antigos versos.
Voar nas asas do tempo,
Passar além do firmamento.

(Nublosas são as terras da insânia,
Complexo é o sorriso do louco.
Palavra branca em tela negra.
Crença dispersa. Pouco a Pouco).


Nasci dor.
Em mágoa sem tom,
Ao som da melancolia.
Desespero profundo,
Existir aqui, aqui neste mundo.

Decepados os andares,
Suplicados os fonemas.
Negra á a lousa da calçada.
No reflexo transverso,
Subsisto sem pertexto,
No pertexto do nada.

(Apenas queria ser Poeta,
Elevar as utopias perdidas.
Nas alturas pintar um porto,
Em nuvem deitar meu corpo).

A vida é opaca e o louco ri

Sei Lá


Porque me obrigas a escrever
Se neste sentir sou
Apenas uma letra
Sei apenas que posso rabiscar
*
De dia
Escrevo cores em flores
À noite
Sonho com um amor ao luar
*
E se estou de pernas para o ar
Escuto com atenção
A chegada dos amigos
Felizes, enobrecem a poesia
*
Postam com afinco
Mas, sem eles saberem
Saco sempre o seu saber
Para mais tarde evocar
*
E se algum curioso perguntar
Onde busco a minha inspiração
Respondo apenas:
*
Sei Lá!

José Luís Lopes

Sei Lá...

Sei lá...
Porque a dor é assim
Delinquente
A assomar-se nos caminhos
A quebrar todas as regras
Saudação em pedra dura
Natural (mente)
É casta doce, madura
Em sangue quente
E o meu corpo frio
É Indigente
Mas consente
Nos caminhos ancestrais
A queda pura