Campo de Trigo com Corvos VAN GOGH (1853-1890)
Há um inverno perpétuo
Não neva,
Não enregela,Não sorri,
Apenas divide o dia da noite.
Os campos, trabalhados,
Erguem espigas ao céu
Vestem-se de algodão doce.
Mas os sonhos…, estão hirtos,
E as mãos cristalizaram.
Do alpendre,
Penduro a alma na figueira,
Está presa pelas memórias
Em árvore do diabo.
Nos lábios, uma flor.
Na torre, o sineiro
Balança a corda,
Lê um apelo do coveiro.
A flor voará no bico do corvo.
E é tudo que resta de mim.
A terra sorrirá,
Terá a minha escrita para revolver
E das suas entranhas, um dia, brotarão
Poesias em flor,
Brancas talvez.
Este texto apenas poderá ser entendido por aqueles que souberam escutar o que nunca disse.
José Luís Lopes
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