quarta-feira, 27 de abril de 2011

Vou

(Urzes - Moção - Castro Daire)





Encontrei por acaso
Num jardim
Onde sempre vou
Uma flor que me falou
De mansinho
- Vem cá (diz ela)
- Vem cá!

Eu nem sei
Para onde vou
Não sei nada dela
E ela nem de mim saberá
Mas eu irei
Como sempre
Vou!

Os meus passos são lentos
Tão lentos
Como as marcas do tempo
Em que me baixava
Para lhe dizer
- Vou agora por aí

Não sei se fui eu
Que me evadi dela
Ou se ela me disse um dia
- Vai por aí!
- Mas não digas adeus
- Vem cá (diz ela)
- Vem cá

Quero dar-me mais
Mas não tenho


Sequer o jeito
E nem os modos
Que me diferenciem
Do resto do mundo
Só sei que quero ir



- Vou agora por aí

domingo, 10 de abril de 2011

Na luz dos olhos teus


Eu vi a vida na luz dos olhos teus.
O chão...
A árvore...
O porto da lágrima incontida.
O barco...
O aceno. Ele me pareceu estático.
Definitivo.
O globo onde tudo parasse
A fazer sentido.
Seus olhos eram como mãos a me tocarem,
Braços a abraçarem,
Boca a me beijar a boca.
Neles havia a mulher e a menina,
A velha e a moça,
O ocaso e o meio-dia.
Eu continuaria a olha-los pela vida toda
Sem sentir sede nem fome,
Frio ou sono.
Fecho meus olhos e continuo a vê-los
A iluminarem o avesso
De tudo aquilo que não possuo.


Frederico Salvo