terça-feira, 7 de setembro de 2010

AUSÊNCIA (indrisos conjugados)


I

O que tens a me dizer agora
Que já vai alta e avançada a hora
E as nossas almas tanto se confundem?

Se ao calar-me surge o teu nome
E um calor em brasa me consome
Sob as lembranças todas que nos unem.

No quarto as horas, em insônia, voam.

No dorso meu as noites se amontoam.


II

E eu que nem sombra sou de Atlas,
Pra sustentar a noite e estrelas altas
E nem a lua cabe em meu sorriso,

Fico a rolar pelos lençóis, insone,
Qual pena leve n’olho do ciclone,
Perdendo o sono ao soar dos guisos.

E os latidos dos cães ao longe ecoam;

E as horas todas no teu mar escoam.


III

Pelas marolas vão meus pensamentos,
Como jangadas ao sabor dos ventos
Que atormentados sopram-lhes as velas.

Em plena madrugada vou singrando,
Os ventos irascíveis vão uivando
Nos meus ouvidos, alto, o nome dela.

As horas todas feito vagas soam.

Na arrebentação rugindo me atordoam.


IV

Agora em meu leito como náufrago,
Sentindo, da ausência, o toque áspero,
Vou recolhendo o que restou de saldo:

Uma imensa dor, um modo trôpego,
No rosto opaca cor, um pulso rápido...
O que sobrou de mim sob o rescaldo.

As horas todas queimam, incendeiam;

As minhas cinzas soltas devaneiam.



V

Quando ao amanhecer a brisa leve
Me presenteia com um sono breve,
Vejo-me em sonho a beijar-te a face...

E a penumbra ganha colorido,
E o meu olhar se enche de sentido
Sobre o calor divino desse enlace.

As nossas horas todas se confundem

Sob as lembranças tantas que nos unem.



Frederico Salvo

domingo, 5 de setembro de 2010

Fragil o pensamento.









Delicado

frágil o pensamento

subtis os traços

cândidos

alvos de brancura

imensos

centros que gravitam

pureza

infinita das coisas simples

leveza

transcendencia oculta

alma

que vagueia

nos espaços

infinitos

perdida em mares

mesclados

de turquesa

rosáceas estrelas

rosa

dos ventos.


(foto José Silva)